Dom Casmurro, romance narrado em primeira
pessoa, adquire um tom confidencial. O foco
interno subjetivo, porém, não é confiável porque
o leitor tem apenas uma versão dos fatos. As
incertezas geradas pelo ciúme de Bentinho não
são comprovadas ao longo da narrativa.
Assinale a alternativa correta.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto – Narrador em primeira pessoa e confiabilidade.
A questão exige identificar, a partir de Dom Casmurro, características do foco narrativo em primeira pessoa e a confiabilidade do narrador.
Justificativa para a alternativa C (“certo”):
O romance é narrado por Bentinho, que apresenta sua versão dos fatos. Segundo a norma literária e conceito de “narrador não confiável” (Wayne Booth, The Rhetoric of Fiction), quando o narrador participa da história, sua visão pode ser parcial ou distorcida pelos próprios sentimentos — neste caso, ciúme e incerteza sobre Capitu.
O enunciado corretamente destaca que apenas a versão de Bentinho é apresentada e que as incertezas quanto à traição jamais são comprovadas. Isso obriga o leitor a ler “nas entrelinhas”, sendo crítico ao julgar quem fala a verdade. Celso Cunha e Lindley Cintra (“Nova Gramática do Português Contemporâneo”) ressaltam que a análise do foco narrativo é fundamental para a interpretação textual e para distinguir opinião de fato.
Portanto, marcar a alternativa C (certo) é correto, pois evidencia a limitação do ponto de vista do narrador.
Análise da alternativa E (errado):
Optar pela alternativa “errado” seria afirmar que o enunciado está incorreto, o que contrariaria tanto a crítica literária quanto a interpretação da obra. Não se pode afirmar objetivamente, com base apenas no relato de Bentinho, que Capitu traiu Bentinho. As dúvidas persistem até o final do romance, o que é explicitamente reconhecido nos estudos literários e manuais de interpretação textual.
Dica de interpretação: Em questões que exploram o ponto de vista do narrador, atente-se sempre a termos que indiquem subjetividade (ex: “acha”, “julga”, “suspeita”) e reflita: o narrador participa? Ele pode ter interesse ou emoção que nuble seu relato? Essas são pistas essenciais para resolver questões de interpretação.
Regra de ouro: “Narrador em 1ª pessoa não é sinônimo de verdade absoluta.” (Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa). Sempre analise o viés do narrador!
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