Milagre Brasileiro
Julinho da Adelaide
1975
Cadê o meu?
Cadê o meu, ó meu?
Dizem que você se defendeu
É o milagre brasileiro
Quanto mais trabalho
Menos vejo dinheiro
É o verdadeiro boom
Tá tá no bem bom
Mas eu vivo sem nenhum
Cadê o meu?
Cadê o meu, ó meu?
Eu não falo por despeito
Mas, também, se eu fosse eu
Quebrava o teu
Cobrava o meu
Direito
HOLLANDA, C. B. de. Chico Buarque, letra e música: incluindo Gol de Letras de Humberto Werneck e Carta
ao Chico de Tom Jobim. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 313 p., p. 113.
Com relação à ideia global do TEXTO, uma música de Chico Buarque, e a partir de seus conhecimentos
sobre a economia no período da Ditadura Civil-Militar brasileira (1964-1985), é CORRETO afirmar que
Gabarito comentado
Alternativa correta: E
Tema central: a canção ironiza o chamado "Milagre Brasileiro" — o forte crescimento econômico (principalmente entre 1968‑1973) que, apesar das altas taxas de crescimento, não beneficiou grande parte da população, aprofundando a concentração de renda.
Resumo teórico: entre 1968‑73 ocorreu um ciclo acelerado de industrialização e crescimento comandado por políticas pró‑investimento (crédito subsidiado, grandes obras, estímulo às exportações) e administração econômica liderada por ministros como Delfim Netto. Esse crescimento gerou aumento do PIB, mas acompanhado de perdas salariais, concentração de renda, e posterior aumento da dívida externa. Autores como Thomas Skidmore e estudos do IPEA/IBGE discutem essa combinação de crescimento alto e desigualdade persistente.
Por que E é correta: a letra pergunta "Cadê o meu?" e ironiza o "milagre" que existe para poucos. Assim, a música aponta explicitamente que o crescimento ditatorial foi acelerado, porém obtido sob forte concentração de renda — exatamente o sentido apresentado na alternativa E.
Análise das incorretas:
A — incorreta: o “Milagre” não começou como realidade plena já em Castello Branco; seu auge foi mais tarde (Médici) e a alternativa simplifica/cronologiza de forma errada.
B — incorreta: não se trata só de “faltar resolver a concentração de renda” numa economia saneada; houve ganhos macroeconômicos, mas também problemas estruturais (repressão, dívida, exclusão) — a canção critica a exclusão, não elogia um saneamento pleno.
C — incorreta: a música não expressa despeito da esquerda frente a êxitos; é crítica ao fato de que o “êxito” não alcança a maioria. Reduzir ao sentimento político de um segmento distorce o sentido.
D — incorreta: afirma que baixo-inflacão e sólido desempenho foram herança contínua até Figueiredo — porém o boom foi concentrado e não sustentou inflação baixa/estabilidade ao longo de todo o período ditatorial.
Dica de interpretação: em questões com textos literários, busque o tom da voz (ironia/queixa) e termos-chave ("milagre", "Cadê o meu?"). Relacione-os com fatos históricos: alta do PIB vs. distribuição de renda. Isso costuma apontar a alternativa que combina crescimento acelerado e desigualdade (aqui, E).
Fontes sugeridas: Thomas Skidmore, "The Politics of Military Rule in Brazil, 1964–1985"; estudos do IPEA/IBGE sobre desigualdade e crescimento no período.
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