Na verdade, o contexto histórico em que se deu a adoção do conceito de “classes perigosas no Brasil”
fez com que, desde o início, os negros se tornassem os suspeitos preferenciais. Na discussão sobre a
repressão à ociosidade em 1888, a principal dificuldade dos deputados era imaginar como seria possível
garantir a organização do mundo do trabalho sem o recurso às políticas de domínio características do
cativeiro.
CHALHOUB, S. Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
250 p., p. 23.
O autor do TEXTO apresenta informações sobre o período próximo à abolição da escravidão legal no
Brasil, uma instituição que marcou profundamente a cultura nacional. Com relação à ideia global do texto
e a partir de seus conhecimentos sobre o tema, é possível afirmar que
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa C.
Tema central: a questão trata das reações das elites brasileiras diante da abolição (Lei Áurea, 13/05/1888) e de como o fim jurídico da escravidão impôs aos grupos dominantes o problema de manter o controle sobre a força de trabalho livre. É uma pergunta sobre continuidades do controle social e das representações racistas que classificavam negros como “classes perigosas”.
Resumo teórico curto: com o fim da escravidão as elites temiam perda de disciplina e ordem no mundo do trabalho; por isso buscaram mecanismos legais e sociais (práticas policias, estigmatização, políticas de emprego e migração interna) para subjugar a mão de obra livre. Autores como Chalhoub (Cidade febril, 1999) mostram como essas apreensões produziram suspeição racial e medidas de controle.
Por que C é correta: a alternativa afirma que “a elite econômica e política temia a perda do domínio político sobre a mão de obra nacional juridicamente livre”. Isso sintetiza a leitura do texto: não se trata apenas de criminalizar indiscriminadamente, mas de um receio central das elites — perder o poder de disciplinar trabalhadores antes mantidos pela escravidão — e, por isso, de iniciativas para reordenar e controlar esse trabalho.
Análise das incorretas:
A: exagera ao dizer “identificação precisa” — o texto aponta suspeição racial generalizada, não uma identificação criteriosa de grupos criminosos.
B: afirma que houve “profunda crise econômica” imediata pela abolição; historiograficamente, o impacto econômico foi complexo e gradual, não uma crise uniforme atribuída apenas ao ato de 1888.
D: apresenta juízo normativo (“não tinha condições sociais”) e desloca o argumento para incapacidade de o país abolir, em vez de tratar das estratégias de controle posteriores.
E: reproduz um estereótipo racista (incapacidade de adaptação) que foi discurso das elites, mas não é explicação histórica aceitável: a questão pede analisar o medo das elites, não naturalizar essa visão.
Dica de interpretação: foque nas palavras-chave do enunciado (“domínio”, “classes perigosas”, “1888”) e na posição do autor. Diferencie o que é relato de uma prática/medo das elites (por que agiram) do que seria uma conclusão normativa ou um pressuposto racista.
Fontes rápidas: Chalhoub, S. Cidade febril (1999); Lei Áurea (13/05/1888) — para contextualizar cronologicamente.
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