O Modernismo brasileiro caracterizou-se pela inovação na linguagem e na temática. No trecho de
Macunaíma, no TEXTO, Mário de Andrade, bem ao estilo antropofágico, segue à risca esse caráter
inovador, sobretudo, quanto ao uso de:
A- construções sintáticas pouco usuais;
B- palavras de origem indígena;
C- linguagem coloquial;
D- figuras do folclore nacional.
Faça a correspondência dessas características da obra de Mário de Andrade com os excertos do TEXTO, a seguir.
( ) “Voltava a ficar imóvel escutando assuntando maquinando”.
( ) “mais cantadeira que a Mãe-d’água”.
( ) “Mas as três cunhãs deram muitas risadas”.
( ) “que não tinha deus não”.
Então, assinale a alternativa que representa as características do trecho de Macunaíma na ordem em que
aparecem, respectivamente, os excertos retirados do TEXTO.
Piaimã
A inteligência do herói estava muito perturbada. Acordou com os berros da bicharia lá em baixo nas
ruas, disparando entre as malocas temíveis. E aquele diacho de sagui-açu (...) não era saguim não,
chamava elevador e era uma máquina. De-manhãzinha ensinaram que todos aqueles piados berros
cuquiadas sopros roncos esturros não eram nada disso não, eram mas cláxons campainhas apitos buzinas
e tudo era máquina. As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam fordes hupmobiles chevrolés
dodges mármons e eram máquinas.
O herói aprendendo calado. De vez em quando estremecia. Voltava a ficar imóvel escutando
assuntando maquinando numa cisma assombrada. Tomou-o um respeito cheio de inveja por essa deusa
de deveras forçuda, Tupã famanado que os filhos da mandioca chamavam de Máquina, mais cantadeira
que a Mãe-d’água, em bulhas de sarapantar. Então resolveu ir brincar com a Máquina pra ser também
imperador dos filhos da mandioca. Mas as três cunhãs deram muitas risadas e falaram que isso de deuses era gorda mentira antiga, que não tinha deus não e que com a máquina ninguém não brinca porque ela
mata. A máquina não era deus não, nem possuía os distintivos femininos de que o herói gostava tanto.
Era feita pelos homens. Se mexia com eletricidade com fogo com água com vento com fumo, os homens
aproveitando as forças da natureza. Porém jacaré acreditou? nem o herói!
[... ]
Estava nostálgico assim. Até que uma noite, suspenso no terraço dum arranhacéu com os manos,
Macunaíma concluiu: — Os filhos da mandioca não ganham da máquina nem ela ganha deles nesta luta.
Há empate.
ANDRADE, Mário. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986. p. 110.
Gabarito comentado
Gabarito: D) ADBC
Tema central: A questão exige interpretação de texto com foco nas características do Modernismo presentes em Macunaíma, de Mário de Andrade. O desafio é correlacionar tipos de linguagem e elementos estilísticos de acordo com o excerto apresentado.
Justificativa da alternativa correta:
O Modernismo inovou ao romper com a linguagem formal, adotando traços coloquiais e elementos da cultura brasileira. Analisando cada excerto, temos:
- “Voltava a ficar imóvel escutando assuntando maquinando.” — Apresenta construção sintática pouco usual, com verbos justapostos sem conectivos, recurso típico do estilo modernista para simular oralidade (letra A).
- “mais cantadeira que a Mãe-d’água.” — Referência à figura do folclore nacional, a Mãe-d’água, lenda popular do imaginário brasileiro (letra D).
- “Mas as três cunhãs deram muitas risadas.” — Usou a palavra de origem tupi “cunhãs” (meninas, mulheres), representando o uso de vocábulos indígenas (letra B).
- “que não tinha deus não” — Exemplo de linguagem coloquial, marcada no texto pelo uso de dupla negação, comum na fala popular brasileira (letra C).
Assim, a sequência correta é A-D-B-C, ou seja, Alternativa D.
Análise das demais alternativas:
- A) CBAD: Começa trocando a ordem dos elementos, atribuindo linguagem coloquial ao primeiro trecho, o que não ocorre.
- B) ACDB: Inverte a referência ao folclore e à língua indígena, desconsiderando a associação correta.
- C) CDBA: Coloca linguagem coloquial como primeira característica e termina com folclore de forma equivocada.
- E) DABC: Inicia com figura do folclore para “escutando assuntando maquinando”, incorreto, pois não é entidade folclórica, e sim efeito sintático.
Dicas para questões deste tipo: Recomendo atentar-se a palavras-chave, ao contexto cultural do texto e à estrutura sintática utilizada, identificando rupturas com a norma padrão e traços de oralidade. O Modernismo explora o folclore, a língua coloquial e o resgate de raízes indígenas, como destacam Bechara e Cunha & Cintra em suas gramáticas.
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