Em relação ao termo sonhático, utilizado na frase "Até grandes empresas estão enveredando para esse
marketing mais, digamos, sonhático", é correto afirmar que:
Leia o texto II para responder a questão.
Texto II
Marketing sonhático
Produtos com ingredientes orgânicos e fabricados respeitando as tradições locais tendem a ganhar pontos.
Por isso, um número crescente de empresas exagera um tantinho na hora de se "vender". A fabricante
carioca de sucos Do Bem, criada em 2007, publica verdadeiros manifestos em suas caixinhas.
A Do Bem não usa açúcar, corantes ou conservantes para fazer uma "bebida verdadeira". Um desses
manifestos diz que suas laranjas, "colhidas fresquinhas todos os dias, vêm da fazenda do senhor Francesco
do interior de São Paulo, um esconderijo tão secreto que nem o Capitão Nascimento poderia descobrir".
Os sucos custam cerca de 10% mais do que os da concorrência. Mas as laranjas não são tão especiais
assim. Na verdade, quem fornece o suco para a Do Bem não é seu Francesco, que jamais existiu, mas
empresas como a Brasil Citrus, que vende o mesmo produto para as marcas próprias de supermercados.
Em nota, a empresa disse que não comenta a política de fornecedores e que o personagem Francesco é
"inspirado em pessoas reais". Até grandes empresas estão enveredando para esse marketing mais,
digamos, sonhático. A Coca-Cola, por exemplo, lançou em 2011 no Brasil um suco chamado Limão & Nada.
A promessa, a julgar pelo nome, era que aquele fosse um suco natural de limão. Mas a bebida tinha outros
ingredientes na formulação, açúcar entre eles, e acabou saindo de linha no ano passado [2013]. A Coca-Cola diz, em nota, que os ingredientes eram informados na embalagem e que o nome não pretendia
confundir o consumidor.
Nos Estados Unidos, uma reportagem desmascarou dezenas de destilarias de uísque ditas artesanais.
Algumas delas, criadas há poucos anos, vendiam bebidas envelhecidas 15 anos, o que chamou a atenção
de consumidores mais desconfiados. Descobriu-se que mais de 40 marcas compravam uísque de um
mesmo fornecedor, a fábrica MGP, uma das maiores do país, localizada no estado de Indiana.
Entre as desmascaradas está a Breaker Bourbon, que afirmava produzir sua bebida numa destilaria nas
montanhas douradas da costa californiana. "Todo mundo tem uma história boa e verdadeira para contar. As
empresas não precisam ser desonestas com seus clientes", diz Mauricio Mota, sócio da agência de
conteúdo The Alchemists.
Para o publicitário Washington Olivetto, presidente da WMcCann, que ajudou na criação da Diletto, "um
lindo produto merece uma linda história". Se a história for verdadeira, tanto melhor.
Fonte: Adaptado de: Leal, Ana Luiza. Toda empresa quer ter uma boa história. Algumas são mentira.
Revista Exame, 23/10/14.
Acesso em: 23/10/17.
Disponível em: https://exame.abril.com.br/revista-exame/marketing-ou-mentira/
Gabarito comentado
Tema central: A questão avalia interpretação de texto, especialmente a compreensão do uso de neologismos (palavras inventadas) e de ironia no contexto da reportagem. Exige também atenção à intenção discursiva e ao sentido real atribuído pelo texto, indo além do sentido literal das palavras.
Justificativa da alternativa correta (C):
O termo sonhático foi cunhado no texto de forma irônica, mesclando "sonho" com "prático" (ou “automático”), para ironizar práticas de marketing que vendem ilusões, “sonhos”, sem relação com a realidade (criando histórias falsas ou enganosas para valorizar produtos). A reportagem não valoriza esse "marketing sonhático" como positivo ou inovador, mas sim o apresenta como forma de dissimulação, sugerindo que sob o véu dos “sonhos” há mentira, invenção e desinformação. Isso corresponde exatamente ao que assinala a alternativa C: identificar o uso irônico do termo.
Análise das alternativas incorretas:
Alternativa A: Incorreta. O texto não utiliza “sonhático” de maneira elogiosa; o tom é crítico, como destaca o trecho: “algumas são mentira”.
Alternativa B: Incorreta. A definição “independente do(s) sonho(s)” não condiz com contexto nem com a formação do neologismo, que mantém o elemento “sonho”.
Alternativa D: Incorreta. Não há erro gramatical ou impedimento para o uso de neologismos fora do contexto literário; gramáticos como Cunha & Cintra e Bechara mostram que neologismos podem servir para crítica ou humor em qualquer gênero, incluindo reportagens.
Estratégia de interpretação:
Fique atento a palavras inventadas e observe se o tom do texto é de crítica, humor ou sarcasmo. Identifique se as ações dos personagens ou empresas são apresentadas de forma questionadora, pois isso indica ironia. Busque sempre pistas no texto, como o uso de aspas, expressões como “digamos”, ou comparações inverossímeis (ex: “esconderijo tão secreto que nem o Capitão Nascimento poderia descobrir”).
Resumo da regra/ conceito:
Ironia: Figura de linguagem em que se expressa o contrário do que se quer realmente dizer, frequentemente para criticar.
Neologismo: Criação de palavra para transmitir ideia nova, comumente usada para expressividade.
Segundo Bechara (Moderna Gramática), o contexto é indispensável para determinar o valor e sentido de neologismos e ironias.
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