*Endogamia: os casamentos e relações se dão no
mesmo grupo.
Observe o parágrafo abaixo:
“Mas que sensibilidade! Agora não apenas por causa
do quadro de uvas e peras e peixe morto brilhando
nas escamas. Sua sensibilidade incomodava sem ser
dolorosa, como uma unha quebrada. E se quisesse
podia permitir-se o luxo de se tornar ainda mais sensível, ainda podia ir mais adiante: porque era
protegida por uma situação, protegida como toda a
gente que atingiu uma posição na vida. Como uma
pessoa a quem lhe impedem de ter a sua desgraça.
Ai que infeliz que sou, minha mãe. Se quisesse
podia deitar ainda mais vinho no copo e, protegida
pela posição que alcançara na vida, emborrachar-se
ainda mais, contanto que não perdesse o brio. E
assim, mais emborrachada ainda, percorria os olhos
pelo restaurante, e que desprezo pelas pessoas secas
do restaurante, nenhum homem que fosse homem a
valer, que fosse triste. Que desprezo pelas pessoas
secas do restaurante, enquanto ela estava grossa e
pesada, generosa a mais não poder. E tudo no
restaurante tão distante um do outro como se jamais
um pudesse falar com o outro. Cada um por si, e lá
Deus por toda a gente.” (LISPECTOR, C. Devaneio
e embriaguez de uma rapariga. Laços de família.
Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 14-5)
Clarice Lispector se caracterizou por uma escrita
bastante sensível e precisa, em busca de uma
revelação maior do sujeito, na sua inglória
afirmação de ser. Sua capacidade de percepção do
mínimo dava a ela uma condição bastante elegante
na hora de tecer elementos capazes de propor uma
leitura da condição humana em luta consigo mesma.
No conto, Clarice se esmerou na capacidade de
atingir o alvo com mais brevidade e ambição
econômica de espaço. No parágrafo do conto acima,
o personagem é descrito tentando juntar duas
pontas, a dele e a dos outros à sua volta, no
restaurante, mas, enquanto se embriaga, não deixa
de cavar um imenso abismo entre ele e o próprio
mundo. Isso significa que:
*Endogamia: os casamentos e relações se dão no mesmo grupo.
Observe o parágrafo abaixo:
“Mas que sensibilidade! Agora não apenas por causa do quadro de uvas e peras e peixe morto brilhando nas escamas. Sua sensibilidade incomodava sem ser dolorosa, como uma unha quebrada. E se quisesse podia permitir-se o luxo de se tornar ainda mais sensível, ainda podia ir mais adiante: porque era protegida por uma situação, protegida como toda a gente que atingiu uma posição na vida. Como uma pessoa a quem lhe impedem de ter a sua desgraça. Ai que infeliz que sou, minha mãe. Se quisesse podia deitar ainda mais vinho no copo e, protegida pela posição que alcançara na vida, emborrachar-se ainda mais, contanto que não perdesse o brio. E assim, mais emborrachada ainda, percorria os olhos pelo restaurante, e que desprezo pelas pessoas secas do restaurante, nenhum homem que fosse homem a valer, que fosse triste. Que desprezo pelas pessoas secas do restaurante, enquanto ela estava grossa e pesada, generosa a mais não poder. E tudo no restaurante tão distante um do outro como se jamais um pudesse falar com o outro. Cada um por si, e lá Deus por toda a gente.” (LISPECTOR, C. Devaneio e embriaguez de uma rapariga. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 14-5)
Clarice Lispector se caracterizou por uma escrita bastante sensível e precisa, em busca de uma revelação maior do sujeito, na sua inglória afirmação de ser. Sua capacidade de percepção do mínimo dava a ela uma condição bastante elegante na hora de tecer elementos capazes de propor uma leitura da condição humana em luta consigo mesma. No conto, Clarice se esmerou na capacidade de atingir o alvo com mais brevidade e ambição econômica de espaço. No parágrafo do conto acima, o personagem é descrito tentando juntar duas pontas, a dele e a dos outros à sua volta, no restaurante, mas, enquanto se embriaga, não deixa de cavar um imenso abismo entre ele e o próprio mundo. Isso significa que: