Valendo-se de um tom de contestação, o poema “Não há Vagas” critica, fundamentalmente,
Texto para a questão: Não há vagas
Ferreira GullarO preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
Gullar, Ferreira in 'Antologia Poética'. Disponível em Acesso em 08 de
ago. 2018.
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
está fechado:
"não há vagas
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
não fede
nem cheira
Gabarito comentado
Assunto central: Interpretação de texto, com ênfase na função metalinguística e na crítica à alienação artística.
O poema de Ferreira Gullar propõe uma reflexão profunda sobre a postura do fazer poético. Ele questiona a tradição literária que, por vezes, afasta a poesia dos temas sociais, relegando a invisibilidade questões do cotidiano, como a fome, o salário baixo, as dificuldades dos trabalhadores e o sofrimento popular. O principal recurso linguístico é o uso da metalinguagem, pois o texto fala sobre o próprio “escrever poemas”.
Justificativa da alternativa correta (B):
A alternativa B está correta porque o texto denuncia a alienação de certos poetas: aqueles cujos poemas não abarcam (“não cabe no poema...”) a dureza da vida real, preferindo criar versos etéreos (“mulher de nuvens”, “fruta sem preço”). Essa crítica é feita por meio de versos que excluem do poema tudo aquilo que é essencial à vida comum, transformando o poema em um espaço “fechado” para os problemas humanos concretos. Conforme explicam Bechara e Cunha & Cintra, a metalinguagem aparece quando o texto faz reflexão sobre si mesmo, como ocorre aqui.
Análise das alternativas incorretas:
A) Erra ao reduzir o tema à falta de alimento e emprego. O poema cita alimentos, mas para ilustrar o que está excluído do universo poético, não porque este seja seu foco principal.
C) Incorreta pois sugere que a crítica recai sobre o marasmo dos trabalhadores. O texto, porém, não culpa os trabalhadores, mas a postura de quem ignora suas realidades.
D) Embora a desigualdade social seja mencionada, o alvo da crítica é a fuga do poeta dessas questões. O poema não faz denúncia direta à desigualdade, e sim à omissão do poema em retratá-la.
E) Não trata de “relações patrão-empregado” de forma direta. O eixo temático é o alheamento do eu lírico diante das dores sociais.
Dica de interpretação para provas: Atente-se às funções da linguagem e à intenção do autor. Em textos metalinguísticos, busque indícios nos versos em que o próprio fazer artístico é questionado ou tematizado.
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