Questão c4704d3c-e3
Prova:FAG 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

“O seu coração é uma casa de portas abertas, Amigo, você é o mais certo nas horas incertas.”
(Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

Sobre o fragmento da letra da música acima, marque a alternativa que contém, na sequência, as duas figuras de linguagem presentes nele:

Texto 3


que da vida não se descreve...
Eu me recordo daquele dia. O professor de redação me desafiou a descrever o sabor da laranja. Era dia de prova e o desafio valeria como avaliação final. Eu fiquei paralisado por um bom tempo, sem que nada fosse registrado no papel. Tudo o que eu sabia sobre o gosto da laranja não podia ser traduzido para o universo das palavras. Era um sabor sem saber, como se o aprimorado do gosto não pertencesse ao tortuoso discurso da epistemologia e suas definições tão exatas. Diante da página em branco eu visitava minhas lembranças felizes, quando na mais tenra infância eu via meu pai chegar em sua bicicleta Monark, trazendo na garupa um imenso saco de laranjas. A cena era tão concreta dentro de mim, que eu podia sentir a felicidade em seu odor cítrico e nuanças alaranjadas. A vida feliz, parte miúda de um tempo imenso; alegrias alojadas em gomos caudalosos, abraçados como se fossem grandes amigos, filhos gerados em movimento único de nascer. Tudo era meu; tudo já era sabido, porque já sentido. Mas como transpor esta distância entre o que sei, porque senti, para o que ainda não sei dizer do que já senti? Como falar do sabor da laranja, mas sem com ele ser injusto, tornando-o menor, esmagando-o, reduzindo-o ao bagaço de minha parca literatura?
Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir!" Eu nunca mais pude esquecer aquele dia. A experiência foi reveladora. Eu gosto de laranja, mas até hoje ainda me sinto inapto para descrever o seu gosto. O que dele experimento pertence à ordem das coisas inatingíveis. Metafísica dos sabores? Pode ser...
O interessante é que a laranja se desdobra em inúmeras realidades. Vez em quando, eu me pego diante da vida sofrendo a mesma angústia daquele dia. O que posso falar sobre o que sinto? Qual é a palavra que pode alcançar, de maneira eficaz, a natureza metafísica dos meus afetos? O que posso responder ao terapeuta, no momento em que me pede para descrever o que estou sentindo? Há palavras que possam alcançar as raízes de nossas angústias?
Não sei. Prefiro permanecer no silêncio da contemplação. É sacral o que sinto, assim como também está revestido de sacralidade o sabor que experimento. Sabores e saberes são rimas preciosas, mas não são realidades que sobrevivem à superfície.
Querer a profundidade das coisas é um jeito sábio de resolver os conflitos. Muitos sofrimentos nascem e são alimentados a partir de perguntas idiotas.
Quero aprender a perguntar menos. Eu espero ansioso por este dia. Quero descobrir a graça de sorrir diante de tudo o que ainda não sei. Quero que a matriz de minhas alegrias seja o que da vida não se descreve...
Extraído: http://pensador.uol.com.br/textos_reflexivos_para_o_professor/ 

A
pleonasmo / metonímia.
B
metáfora / elipse.
C
comparação / antítese.
D
metáfora / antítese.
E
catacrese / hipérbole.

Gabarito comentado

T
Thiago Campos Monitor do Qconcursos

Tema central: Esta questão aborda figuras de linguagem—um dos assuntos mais frequentes em vestibulares e concursos, exigindo do candidato não só o reconhecimento das definições mas a aplicação adequada no contexto textual. O domínio desse tema permite resolver questões que exploram capacidade interpretativa e conhecimento aprofundado de semântica textual.

Justificativa da alternativa correta: D) metáfora / antítese

O trecho analisado apresenta dois exemplos clássicos de figuras de linguagem:

  • Metáfora: Em “O seu coração é uma casa de portas abertas”, há uma transferência de sentido: o “coração” é comparado a uma “casa de portas abertas”, sem conectivos comparativos (como “como” ou “tal qual”). Nesse caso, caracteriza-se a metáfora, pois há uma relação implícita de semelhança. Segundo Bechara, a metáfora é “a substituição de uma palavra por outra em virtude de uma relação de similaridade subentendida”.
  • Antítese: Em “você é o mais certo nas horas incertas”, há oposição de ideias: “mais certo” (segurança, estabilidade) e “horas incertas” (dúvida, insegurança), compondo a antítese. Segundo Cunha & Cintra, trata-se da justaposição de termos opostos para intensificar o contraste.

Análise das alternativas incorretas:

  • A) pleonasmo / metonímia: Não há pleonasmo (redundância intencional) nem metonímia (substituição por relação de contiguidade) no fragmento.
  • B) metáfora / elipse: Embora haja metáfora, não existe elipse (omissão de elemento facilmente subentendido pelo contexto).
  • C) comparação / antítese: A estrutura não apresenta conectivo comparativo (“como”, “tal qual”), caracterizando metáfora, não comparação.
  • E) catacrese / hipérbole: Ausência de catacrese (uso do termo por falta de vocábulo próprio) e hipérbole (exagero proposital) neste contexto.

Orientação para questões similares: Sempre identifique:

  • Palavras-chave que expressem oposição (antítese) ou comparação implícita (metáfora).
  • Evite a armadilha de confundir metáfora com comparação: só há comparação se houver conectivo explícito.
  • Atente-se às definições clássicas em gramáticos como Bechara e Cunha & Cintra.

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!

Estatísticas

Aulas sobre o assunto

Questões para exercitar

Artigos relacionados

Dicas de estudo