No Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), realizado
em 2015, uma questão causou polêmica ao apresentar
a obra O segundo sexo, escrita pela filósofa francesa
Simone de Beauvoir, em 1949. Apesar de se tratar de
uma obra extremamente importante, sobretudo por
defender a necessidade de se pensar a mulher como
uma questão filosófica, esta não é sua única obra, assim
como ela não é a única filósofa. A invisibilidade da
mulher, na filosofia e também nas ciências, não pode
ser explicada apenas por um motivo porque engendra
um processo histórico-político que atravessa os séculos.
Assinale a alternativa que não se relaciona corretamente
com esse processo de invisibilidade da mulher.
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: a questão trata da invisibilidade da mulher na filosofia e nas ciências como um processo histórico-político, não como consequência natural biológica. Para resolver, é preciso distinguir explicações essencialistas (biológicas) de explicações sociais, culturais e institucionais.
Resumo teórico: obras como O Segundo Sexo (Simone de Beauvoir, 1949) mostram que a desigualdade de gênero é construída: “Não se nasce mulher: torna‑se mulher”. A invisibilidade decorre de fatores como androcentrismo na história da filosofia, dualismos corpo/alma (herança platônica/cartesiana), projetos políticos de manutenção do poder e cultura machista que desvaloriza a produção feminina. Fontes úteis: Beauvoir (1949), textos de Judith Butler (1990) sobre gênero como performance e estudos de história da ciência e do conhecimento.
Por que A é a resposta certa (ou seja, a alternativa que NÃO se relaciona corretamente)? A apresenta um argumento biologicista/essencialista: afirma que a mulher “por ser naturalmente selecionada para a maternidade” não desenvolveu o intelecto. Esse raciocínio naturaliza a desigualdade e ignora as explicações sociais, políticas e institucionais. A invisibilidade não é fruto de uma incapacidade biológica comprovada, mas de estruturas culturais e históricas que limitam acesso, reconhecimento e oportunidades.
Análise das alternativas incorretas (por que as demais se relacionam corretamente com o processo):
B — correta em conteúdo: a história da filosofia institucionalizou valores e categorias que precisam ser criticados; aponta para construção histórica e arbitrariedade de supostas “verdades”. (Conceito: crítica genealógica e hermenêutica).
C — correta: identifica a invisibilidade como parte de um projeto político para concentrar e manter poder — explicação alinhada com análises feministas sobre patriarcado e poder.
D — correta: o dualismo corpo/alma (privilegiando o racional sobre o corpóreo) contribuiu para desvalorizar temas ligados ao corpo, gênero e sexualidade, excluindo saberes e experiências femininas (referência: herança platônica/cartesiana).
E — correta: a cultura machista do capitalismo ocidental desvaloriza e silencia a produção intelectual das mulheres, reduzindo visibilidade e transmissão do reconhecimento científico e filosófico.
Estratégia de prova: ao enfrentar enunciados sobre causas sociais, desconfie de alternativas que apelam a explicações “naturais” ou biológicas — geralmente são pegadinhas. Busque termos como “construção histórica”, “projeto político”, “cultura” e “instituição”: indicam causas sociais e estruturais.
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