Questão c26f5a43-c2
Prova:UNESPAR 2016
Disciplina:Filosofia
Assunto:

Leia o trecho abaixo, retirado do ensaio “Do padrão do gosto”, de David Hume.

“É com boa razão, diz Sancho ao cavaleiro narigudo, que pretendo julgar de vinhos: esta é uma qualidade hereditária em nossa família. Dois de meus parentes foram certa vez chamados a opinar sobre um barril de vinho supostamente excelente, pois era antigo e de boa safra. Um deles o saboreia, considera e, após madura reflexão, declara que o vinho é bom, não fosse por um ressaibo de couro que percebera nele. O outro, depois de usar as mesmas precauções, também dá veredicto favorável ao vinho, com a ressalva de um gosto de ferro que facilmente distinguira ali. Não pode imaginar o quanto ambos foram ridicularizados por seus juízos. Mas quem riu por último? Esvaziado o barril, encontrou-se no fundo dele uma velha chave de ferro presa a uma correia de couro.” (HUME, 2011, p. 180)

Assinale a alternativa que mais se aproxima da ideia exposta no texto acima.

A
Segundo Hume, a beleza é uma característica difícil de perceber e por isso é necessário construir um método preciso;
B
Segundo Hume, o paladar é o mais impreciso dos sentidos e por isso houve a diferença no julgamento narrado na história de Dom Quixote;
C
Para Hume, a construção do padrão do gosto depende de entender que a beleza é uma característica das coisas mesmas;
D
Para Hume, a construção do padrão do gosto depende de entender que a beleza é uma característica subjetiva e não das coisas mesmas;
E
Segundo Hume, a beleza é um conceito que só pode ser construído pela experiência.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Gabarito: D

1. Tema central

O trecho ilustra a teoria de David Hume sobre o gosto e a beleza: Hume defende que julgamentos estéticos são respostas subjetivas (sentimentos) e não propriedades objetivas das coisas. A questão exige reconhecer essa posição e diferenciar posições objetivistas e subjetivistas sobre o belo.

2. Resumo teórico essencial (claro e progressivo)

Para Hume (Of the Standard of Taste, 1757), a beleza não reside na coisa em si, mas na mente que a percebe. Contudo, ele não cai no relativismo absoluto: propõe um padrão baseado em críticos qualificados (delicadeza de tato, prática, comparação, liberdade de preconceitos) que permitem avaliações mais confiáveis.

3. Justificativa da alternativa correta (D)

A alternativa D afirma que, para Hume, a construção do padrão do gosto depende de entender que a beleza é subjetiva e não uma característica das coisas. Isso é exatamente o núcleo do ensaio: o belo é um sentimento no sujeito, e o “padrão” busca regular essas respostas subjetivas por critérios humanos de sensibilidade e competência crítica.

4. Por que as outras alternativas estão erradas

A: Afirma necessidade de um método preciso porque a beleza é difícil de perceber — incorreto: Hume não diz que a beleza é difícil de perceber, mas que os juízos podem variar; ele propõe critérios para avaliar julgamentos, não um método científico rígido.

B: Diz que o paladar é o mais impreciso dos sentidos — falha: o exemplo ilustra diferenças de percepção por contaminação sensorial (chave de ferro, correia), não uma tese geral sobre imprecisão do paladar.

C: Defende que a beleza é característica das coisas — contradiz Hume que afirma o contrário (beleza como sentimento).

E: “Só pode ser construído pela experiência” é exagerado: Hume valoriza experiência e prática, mas não reduz a beleza exclusivamente a experiência empírica; ele enfatiza o papel do sentimento e dos critérios críticos (logo, E é incompleta/imprecisa).

5. Estratégia de prova

Procure palavras-chave: subjetivo, objeto, padrão do gosto, critério. Desconfie de alternativas absolutas ("só", "sempre") e compare com a posição clássica de Hume (beleza = sentimento; padrões via críticos experientes).

Fonte sugerida: Hume, David. “Of the Standard of Taste” (1757). Versões em português: “Do padrão do gosto” em coletâneas de Ensaios.

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