Questão c1b74315-9a
Prova:PUC-GO 2015
Disciplina:História
Assunto:República Autoritária : 1964- 1984, História do Brasil

Nas décadas de 1960/1970, como o Texto 5 afirma, as cidades fervilhavam, os tempos eram de contestação e inovação. Assim como os acontecimentos políticos e econômicos no Sudeste Asiático e Oriente Médio afetaram a Europa, nas Américas, a inovação de valores e a invenção visual também se difundiam rapidamente. Uma cultura internacional irreverente e questionadora nascia atravessando as fronteiras nacionais, estendendo-se dos grandes centros para todo o Planeta. Assinale a alternativa que se relaciona a esse movimento histórico-cultural no Brasil nesse período:

TEXTO 5

      NA VIRADA DO SÉCULO, o biólogo Roosmarc conheceu o ápice da fama ao descobrir um novo gênero de primata: o sagui-anão-de-coroa-preta. Foi considerado pela revista Time o grande herói do planeta. Entre os mais de 500 primatas no mundo, Roosmarc descobrira o Callibella humilis, o macaquinho mais saltitante e alegre, anãozinho, com aquela coroa preta. Enquanto outros primatólogos matavam os animais para descrevê-los, dissecando-os em laboratórios, longe da Amazônia, ele criava macacos em sua casa. Esperava que morressem de forma natural e, aí sim, dissecava-os.

      O sagui-anão-de-coroa-preta foi a sensação mundial. Então, ele viveu o ápice da glória. As publicações científicas não se cansaram de elogiá-lo. Quase todos os dias, jornais e revistas estampavam: “Protetor dos animais”, “O bandeirantes da Amazônia”, “O último primatólogo”. De Manaus para o mundo. Os ribeirinhos o saudavam; os políticos o pajeavam; os estudantes de biologia o veneravam. Sim, Roosmarc era visto e considerado como herói do planeta.

      Vida simples, com suas vestes quase sempre largas cobrindo o corpo magro e alto, enfiado semanas na floresta, nunca quisera dinheiro, jamais almejara fortuna. O verdadeiro cientista, dizia, quer, antes de tudo, reconhecimento. Não havia prêmio maior do que isso. Sequer gastava o que ganhava. Aprendera com os bichos que, na vida, não se precisa de muitas coisas...

      Nascera no sul da Holanda e, aos 17 anos, mudou-se para Amsterdã. Queria estudar biologia. Nos fins do ano 60, a cidade fervilhava, era a capital da contestação. John Lennon e Yoko Ono haviam escolhido a cidade para protestar contra a Guerra do Vietnã. Os rebeldes desfilavam pelas ruas, enquanto John Lennon e Yoko Ono incitavam a quebra de valores deitados uma semana num hotel da cidade, consumindo droga e criando suas canções. O gosto pela contracultura crescia, agigantava-se. Rebelde, Roosmarc desfilava pelas ruas, gritando pela paz, também queimando maconha e outras ervas.

      Mas foi, nesta época, que ele se interessou pelos primatas. Depois que terminou a universidade, fez amizade com uma estudante, que também saboreava a contracultura, o desprezo a normas e procedimentos, e com ela, vivendo um romance apaixonado, deu volta ao mundo, como se fosse o famigerado navegante português Vasco da Gama. Estudante de artes plásticas, Marie tinha sede por aventuras: o novo lhe apetecia; o velho não era mais do que um mundo cinzento. A Europa, com seus prédios cinzentos e frios, uma população resignada, não lhe apetecia. Queria quebrar barreiras, outras fronteiras. Não queria apodrecer naquelas cidadezinhas holandesas, onde as mulheres envelheciam rapidamente e só cuidavam de casa. Não queria se transformar num símbolo de cama, fogão e igreja. Menosprezava o título “rainha do lar”, que os pastores tanto veneravam entre a população fiel. Tinha horror ao ver sua mãe de lenço na cabeça e avental cobrindo a gordura da barriga. Se ficasse numa daquelas cidadezinhas, em poucos anos estaria como a mãe – brigava constantemente com o seu pai, saía de casa aos domingos para assistir a mesmice do partor Simeão, e que, rapidamente, voltava para casa para preparar o almoço para os filhos. Que destino! A liberdade a chamava. Não era o que dizia a canção de John Lennon? Ao conhecer Roosmarc, o desejo por aventuras avivou como brasa viva. Quando convidada para segui-lo, e ela queria produzir desenhos e aquarelas jamais vistas no mundo, não titubeou, como se a oportunidade fosse um cavalo encilhado. E cavalo encilhado passa por nós somente uma vez ...

                     (GONÇALVES, David. Sangue verde. Joinville: Sucesso Pocket, 2014. p. 200-201.Adaptado.)

A
Alinhar a cultura brasileira à nova cultura internacional tornou-se uma questão de Estado nos planos de desenvolvimento dos governos militares.
B
O movimento tropicalista foi responsável por uma ruptura musical e comportamental, resgatando a antropofagia da Semana de 1922; empenhou-se em conectar a cultura musical brasileira ao cenário internacional, em particular ao pop e ao rock.
C
Os movimentos estudantis no Brasil contra a ditadura militar eram apoiados pela sociedade civil e por diversos partidos políticos da época.
D
O Cinema Novo, contrário ao movimento de contracultura, adota como referência o romantismo em suas personagens e cenários.

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos

Gabarito: B

Tema central: o enunciado trata da circulação internacional de valores culturais nos anos 1960/70 e de como isso se manifestou no Brasil — especialmente por meio do movimento tropicalista, que misturou referências locais (antropofagia) com pop e rock internacionais.

Resumo teórico: o Tropicalismo (final dos anos 60) foi um movimento artístico-musical liderado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes, entre outros. Reativou a ideia de antropofagia (do Manifesto Antropófago, 1928) como estratégia cultural: "devorar" influências estrangeiras para produzir algo brasileiro e moderno. Foi contemporâneo à contracultura global e ajudou a conectar a música brasileira ao pop/rock mundial.

Fontes recomendadas: Manifesto Antropófago (Oswald de Andrade, 1928); materiais sobre Tropicalismo e exílio de Caetano/Gil (1969); textos de referência sobre Cinema Novo e "A Estética da Fome" (Glauber Rocha).

Por que a alternativa B está correta: afirma que o Tropicalismo promoveu ruptura musical e comportamental, resgatou a antropofagia e buscou diálogo com o pop/rock internacional — descrição que coincide com a historiografia do movimento e com suas práticas estéticas e políticas. Os festivais de 1967-68 e gravações do período demonstram essa miscigenação cultural.

Análise das alternativas incorretas:

A — Incorreta. O regime militar (1964–1985) não fez da "alinhar a cultura brasileira à nova cultura internacional" uma política de Estado; ao contrário, exerceu censura e controle cultural, promovendo narrativas nacionalistas e reprimindo manifestações contrárias ao regime.

C — Incorreta. Os movimentos estudantis contra a ditadura tiveram apoios pontuais, mas foram fortemente reprimidos; não houve apoio amplo e institucionalizado da sociedade civil ou de "diversos partidos" — muitos partidos foram cassados ou atuaram na clandestinidade.

D — Incorreta. O Cinema Novo não era contrário à contracultura nem romantizava personagens/cenários: inspirou-se no neorrealismo e na crítica social ("estética da fome"), com forte compromisso político e estético contra desigualdades.

Dica de interpretação: identifique palavras-chave do enunciado (ex.: "inovação de valores", "irreverente", "invenção visual") e relacione-as com movimentos culturais brasileiros do período. Ao ler alternativas, cheque se a descrição corresponde às práticas e ao contexto histórico verificado em fontes primárias e secundárias.

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