A “voz” que chama por Pedro Bala, no trecho apresentado, deseja que
o garoto:
A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma voz que atravessa a cidade,
que parece vir dos atabaques que ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros. Uma voz que vem com o ruído dos bondes onde vão os
condutores e motorneiros grevistas. Uma voz que vem do cais, do peito
dos estivadores, de João de Adão, de seu pai morrendo num comício, dos
marinheiros dos navios, dos saveiristas e dos canoeiros. Uma voz que vem do grupo que joga a luta da capoeira, que vem dos golpes que o Querido-de-Deus aplica. Uma voz que vem mesmo do padre José Pedro, padre pobre de olhos espantados diante do destino terrível dos Capitães da
Areia. Uma voz que vem das filhas-de-santo do candomblé de Don’Aninha,
na noite que a polícia levou Ogum. Voz que vem do trapiche dos Capitães
da Areia. Que vem do reformatório e do orfanato. Que vem do ódio do
Sem-Pernas se atirando do elevador para não se entregar. […] Porque é
uma voz que chama para lutar por todos, pelo destino de todos, sem exceção. Voz poderosa como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e
vem de todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz o inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta. Voz que chama
Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos os peitos explorados da cidade. Voz que traz
o bem maior do mundo, bem que é igual ao sol, mesmo maior que o sol: a
liberdade. […] Dentro de Pedro Bala uma voz o chama: voz que traz para a
canção da Bahia, a canção da liberdade. Voz poderosa que o chama. Voz
de toda a cidade pobre da Bahia, voz da liberdade. A revolução chama
Pedro Bala.
(AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 258-259”)
A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma voz que atravessa a cidade, que parece vir dos atabaques que ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros. Uma voz que vem com o ruído dos bondes onde vão os condutores e motorneiros grevistas. Uma voz que vem do cais, do peito dos estivadores, de João de Adão, de seu pai morrendo num comício, dos marinheiros dos navios, dos saveiristas e dos canoeiros. Uma voz que vem do grupo que joga a luta da capoeira, que vem dos golpes que o Querido-de-Deus aplica. Uma voz que vem mesmo do padre José Pedro, padre pobre de olhos espantados diante do destino terrível dos Capitães da Areia. Uma voz que vem das filhas-de-santo do candomblé de Don’Aninha, na noite que a polícia levou Ogum. Voz que vem do trapiche dos Capitães da Areia. Que vem do reformatório e do orfanato. Que vem do ódio do Sem-Pernas se atirando do elevador para não se entregar. […] Porque é uma voz que chama para lutar por todos, pelo destino de todos, sem exceção. Voz poderosa como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e vem de todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz o inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta. Voz que chama Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos os peitos explorados da cidade. Voz que traz o bem maior do mundo, bem que é igual ao sol, mesmo maior que o sol: a liberdade. […] Dentro de Pedro Bala uma voz o chama: voz que traz para a canção da Bahia, a canção da liberdade. Voz poderosa que o chama. Voz de toda a cidade pobre da Bahia, voz da liberdade. A revolução chama Pedro Bala.
(AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 258-259”)
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de texto literário, com foco na compreensão da ideia principal, coesão textual e uso de figuras de linguagem.
Nesse trecho de Capitães da Areia, Jorge Amado utiliza fortemente a repetição da palavra “voz” para enfatizar a universalidade e vigor do chamado dirigido a Pedro Bala. Essa voz é personificada, ou seja, recebe características humanas, o que reforça seu papel convocatório e quase inevitável ao personagem.
Ao interpretar textos literários, é essencial buscar os elementos-chave de sentido. Note, por exemplo, expressões como: “Voz que atravessa a cidade e vem de todos os lados”, “Voz poderosa”, e “liberdade” — todas sugerem amplitude, inclusão e luta coletiva.
Alternativa correta: A) lute em nome da liberdade de todos.
A resposta se justifica porque o texto, por meio da recorrência da palavra “todos” e da ideia de luta pelos pobres e oprimidos, destaca que o chamado é para lutar por uma causa abrangente, que visa a liberdade coletiva e não individual. Como reforça Bechara (em “Moderna Gramática Portuguesa”), a interpretação crítica exige perceber o contexto global e repetições enfáticas como elementos coesivos e de sentido ampliado.
Análise das alternativas incorretas:
B) “lute apenas em nome daqueles que detêm o poder”: Incorreta. O foco está nos pobres e explorados, não nos detentores do poder.
C) “entre para a luta armada em nome de causas diversas”: O texto fala de luta, mas nunca associa a luta à questão armada, nem a causas difusas.
D) “violente aqueles que são contra suas opiniões”: Não há incitação à violência nem orientação a agir apenas por convicção pessoal.
E) “promova a desobediência civil”: Apesar de trazer o tom de contestação, não há menção explícita à desobediência civil como principal elemento.
Estratégias para provas: Procure sempre identificar palavras recorrentes, figuras de linguagem e expressões gerais ou restritivas (“todos”, “sem exceção”, “cidade pobre”). Evite basear a resposta em interpretações literais isoladas; observe sempre o contexto amplo.
Resumo: Com base na análise dos elementos estilísticos e no conteúdo explícito e implícito do texto, conclui-se que a voz convoca Pedro Bala a lutar pela liberdade universal, justificando plenamente a alternativa A.
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