Capitães da Areia (1937), de Jorge Amado, é um dos expoentes do
chamado Romance de 30, que se caracterizava pela abordagem social
de determinadas regiões do país. Este aspecto pode ser observado no
trecho apresentado pois:
A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma voz que atravessa a cidade,
que parece vir dos atabaques que ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros. Uma voz que vem com o ruído dos bondes onde vão os
condutores e motorneiros grevistas. Uma voz que vem do cais, do peito
dos estivadores, de João de Adão, de seu pai morrendo num comício, dos
marinheiros dos navios, dos saveiristas e dos canoeiros. Uma voz que vem do grupo que joga a luta da capoeira, que vem dos golpes que o Querido-de-Deus aplica. Uma voz que vem mesmo do padre José Pedro, padre pobre de olhos espantados diante do destino terrível dos Capitães da
Areia. Uma voz que vem das filhas-de-santo do candomblé de Don’Aninha,
na noite que a polícia levou Ogum. Voz que vem do trapiche dos Capitães
da Areia. Que vem do reformatório e do orfanato. Que vem do ódio do
Sem-Pernas se atirando do elevador para não se entregar. […] Porque é
uma voz que chama para lutar por todos, pelo destino de todos, sem exceção. Voz poderosa como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e
vem de todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz o inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta. Voz que chama
Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos os peitos explorados da cidade. Voz que traz
o bem maior do mundo, bem que é igual ao sol, mesmo maior que o sol: a
liberdade. […] Dentro de Pedro Bala uma voz o chama: voz que traz para a
canção da Bahia, a canção da liberdade. Voz poderosa que o chama. Voz
de toda a cidade pobre da Bahia, voz da liberdade. A revolução chama
Pedro Bala.
(AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 258-259”)
A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma voz que atravessa a cidade, que parece vir dos atabaques que ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros. Uma voz que vem com o ruído dos bondes onde vão os condutores e motorneiros grevistas. Uma voz que vem do cais, do peito dos estivadores, de João de Adão, de seu pai morrendo num comício, dos marinheiros dos navios, dos saveiristas e dos canoeiros. Uma voz que vem do grupo que joga a luta da capoeira, que vem dos golpes que o Querido-de-Deus aplica. Uma voz que vem mesmo do padre José Pedro, padre pobre de olhos espantados diante do destino terrível dos Capitães da Areia. Uma voz que vem das filhas-de-santo do candomblé de Don’Aninha, na noite que a polícia levou Ogum. Voz que vem do trapiche dos Capitães da Areia. Que vem do reformatório e do orfanato. Que vem do ódio do Sem-Pernas se atirando do elevador para não se entregar. […] Porque é uma voz que chama para lutar por todos, pelo destino de todos, sem exceção. Voz poderosa como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e vem de todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz o inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta. Voz que chama Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos os peitos explorados da cidade. Voz que traz o bem maior do mundo, bem que é igual ao sol, mesmo maior que o sol: a liberdade. […] Dentro de Pedro Bala uma voz o chama: voz que traz para a canção da Bahia, a canção da liberdade. Voz poderosa que o chama. Voz de toda a cidade pobre da Bahia, voz da liberdade. A revolução chama Pedro Bala.
(AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 258-259”)
Gabarito comentado
Comentário da Questão – Interpretação de Texto
Tema central: A questão exige interpretação textual quanto à caracterização da personagem principal (Pedro Bala) e à identificação do tema social do trecho, recursos essenciais em provas de vestibulares.
Justificativa da Alternativa Correta (C):
Pela análise do texto, vemos que Pedro Bala está inserido em um contexto de luta por justiça social. Expressões como “lutar por todos, pelo destino de todos, sem exceção” e “voz de toda a cidade pobre da Bahia” deixam claro que ele é motivado a agir em nome dos menos favorecidos. Refere-se, assim, à sua capacidade e disposição para se engajar por uma causa coletiva — a luta dos pobres pela liberdade.
Segundo Cunha & Cintra, na interpretação de textos literários, devemos atentar para motivações íntimas e representações simbólicas das personagens. O texto destaca Pedro Bala como símbolo da resistência e agente de transformação.
Análise das Alternativas Incorretas:
A) Fala em “manutenção de políticas públicas”. O texto não menciona políticas públicas ou sua manutenção; o contexto é transformação e luta, não continuidade.
B) Sugere que Pedro Bala e amigos poderiam definir os rumos da Bahia. O trecho apresenta um chamado à luta coletiva, mas não confere a eles tal poder político amplo.
D) Afirma que Pedro Bala teria sido deixado sozinho por seus amigos. Não há, no texto, menção a abandono ou isolamento; a voz que o chama é coletiva.
E) Diz que o texto revela, passo a passo, como fazer uma revolução. O trecho não descreve etapas de revolução, e sim o impulso, o chamado para a mudança.
Elementos-chave para resolver esse tipo de questão:
- Ler atentamente identificando palavras de valor coletivo (“todos”, “cidade”, “peitos explorados”).
- Evitar interpretações literais de trechos não respaldados pelo texto.
- Observar quem é o sujeito das ações e qual a motivação principal apresentada.
Resumo: Pedro Bala é caracterizado como um agente de transformação social, lutando em nome dos menos favorecidos, que é o tema central do Romance de 30.
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