Questão c0df8523-88
Prova:ENEM 2011
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d’angola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não... — me deu resposta: — Eu gosto muito de mudar... [...] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. [...] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.
ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).

Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador

A
relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
B
descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agregado — em proprietário de terra.
C
denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.
D
mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
E
mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.

Gabarito comentado

Verônica FerreiraProfessora de Português
Para responder esta questão, é necessário interpretar o fragmento de texto apresentado. Riobaldo, narrador e personagem do texto, comenta sobre a vida de Zé-Zim, meeiro de sua fazenda que decide mudar de lugar, em contrapartida à sugestão de criar galinhas d’angola, sugerida por Riobaldo. A partir disso o narrador relembra a situação da mãe, que no passado também passou pelo mesmo processo ao se mudar com a família Guedes, e foram protegidos por eles, da mesma maneira como ele, Riobaldo, também deseja proteger Zé-Zim (“Eu dou proteção”). O interessante é notar como se dá a relação entre Riobaldo e Zé-Zim (foco do enunciado): ao mesmo tempo em que Zé-Zim é empregado de Riobaldo (divide o uso das terras com ele, daí o significado da palavra “meeiro”), ele também tem o livre-arbítrio de sair da fazenda e se mudar para outro lugar. A oportunidade de sempre se mudar em busca de algo melhor torna difícil a estabilidade financeira do sertanejo, prejudicando a relação entre agregados e fazendeiros. Desta forma, a alternativa que responde a questão é a letra D. As outras alternativas estão incorretas porque Riobaldo deseja ajudar Zé-Zim, o meeiro não se torna um proprietário de terra, não há denúncia quanto à falta de compromisso com aqueles que se envolvem no trabalho da terra, e não há distanciamento narrativo entre o narrador-personagem e Zé-Zim. 

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