O processo de criação, muitas vezes, apropria-se de textos e de ideias presentes em outros
textos. Isso ocorre nos seguintes versos da canção:
Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
O povo parou para ouvir, ele agradeceu as moedas
E cantou essa música, que contava uma história
Que era mais ou menos assim:
Eu nasci há dez mil anos atrás
e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais
Eu vi as velas se acenderem para o Papa
Vi Babilônia ser riscada do mapa
Vi conde Drácula sugando o sangue novo
e se escondendo atrás da capa
Eu vi
Eu vi a arca de Noé cruzar os mares
Vi Salomão cantar seus salmos pelos ares
Eu vi Zumbi fugir com os negros para floresta
pro Quilombo dos Palmares
Eu vi.
SEIXAS, R; COELHO, P. Há 10 mil anos atrás. São Paulo: Som 13, 1976.
Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
O povo parou para ouvir, ele agradeceu as moedas
E cantou essa música, que contava uma história
Que era mais ou menos assim:
Eu nasci há dez mil anos atrás
e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais
Eu vi as velas se acenderem para o Papa
Vi Babilônia ser riscada do mapa
Vi conde Drácula sugando o sangue novo
e se escondendo atrás da capa
Eu vi
Eu vi a arca de Noé cruzar os mares
Vi Salomão cantar seus salmos pelos ares
Eu vi Zumbi fugir com os negros para floresta
pro Quilombo dos Palmares
Eu vi.
SEIXAS, R; COELHO, P. Há 10 mil anos atrás. São Paulo: Som 13, 1976.
Gabarito comentado
Tema da questão: interpretação de texto — intertextualidade (alusão a outros textos e tradições culturais)
Como entender o enunciado: a pergunta pede onde o texto “se apropria de ideias de outros textos”. Em interpretação, isso aponta para intertextualidade, especialmente a alusão: quando um texto evoca outro (como a Bíblia, mitos, lendas, obras literárias) sem citar diretamente a fonte. Estratégia: procure nomes próprios, personagens históricos ou míticos e eventos consagrados por outras obras.
Gabarito: alternativa D
Por que a alternativa D é correta: ela menciona “a arca de Noé” e “Salomão” e seus “salmos”. Essas expressões remetem diretamente à Bíblia — a narrativa da arca (Gênesis) e o Livro dos Salmos (com salmos tradicionalmente atribuídos a Davi e alguns a Salomão, como os de número 72 e 127). Trata-se de alusão bíblica, um caso clássico de apropriação de ideias presentes em outros textos. É exatamente o que o enunciado pede.
Sinal de leitura para acertar: viu nomes próprios com forte carga cultural? Isso é um indício de intertextualidade. Aqui, além de Noé e Salomão, a canção inteira faz esse jogo (Babilônia, Zumbi, Drácula etc.), mas a alternativa correta é a que traz referências inequívocas e duplas ao texto bíblico.
Análise das demais alternativas (por que estão incorretas):
A) Descreve uma cena cotidiana (um senhor na calçada com viola e cuia). É narrativa em primeira pessoa, sem recorrer a outro texto-fonte. Não há alusão a obras, personagens ou tradições externas.
B) Relata a reação do público e do cantor. Continua a narração do episódio, sem evocar histórias, livros ou mitos já conhecidos. Não há intertextualidade aqui, apenas sequência narrativa.
C) Afirma “nasci há dez mil anos” e “sei tudo”. Isso é hipérbole (exagero expressivo) para construir o eu lírico como testemunha de tudo. Apesar de ser marcante, não é apropriação de outro texto. Observação de norma: “há dez mil anos atrás” é um pleonasmo vicioso, pois “há” já indica passado; pela norma padrão (cf. Bechara; Cunha & Cintra), prefira “há dez mil anos” ou “dez mil anos atrás”, nunca os dois juntos.
Observações normativas úteis (para a prova):
- Ortografia e maiúsculas (cf. VOLP): nomes próprios como Noé, Salomão, Babilônia, Papa, Zumbi iniciam com maiúscula.
- Figura de linguagem: em C, há hipérbole. Figuras não são, por si, intertextualidade. Intertextualidade exige relação com outro texto/obra (aqui, claramente bíblica, na alternativa D).
Estratégia para futuras questões:
- Procure nomes próprios e eventos históricos/bíblicos: sinal forte de alusão.
- Diferencie: narrar (contar a cena) ≠ aludir (trazer outro texto para dentro do seu discurso).
- Atenção a pegadinhas: refrões marcantes (como em C) chamam a atenção, mas podem não responder ao que se pede.
Resumo: a alternativa correta é a que alude explicitamente à Bíblia (arca de Noé e salmos de Salomão), evidenciando intertextualidade por alusão.
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