Esse trecho contribui para garantir a conservação da memória do nosso país, porque
Os automóveis invadem a cidade
Naqueles tempos, a vida em São Paulo era tranquila. Poderia ser ainda mais, não fosse
a invasão cada vez maior dos automóveis importados, circulando pelas ruas da cidade;
grossos tubos, situados nas laterais externas dos carros, desprendiam, em violentas
explosões, gases e fumaça escura. Estridentes fonfons de buzinas, assustando os distraídos,
abriam passagem para alguns deslumbrados motoristas que, em suas desabaladas carreiras,
infringiam as regras de trânsito, muitas vezes chegando ao abuso de alcançar mais de
20 quilômetros à hora, velocidade permitida somente nas estradas. Fora esse detalhe, o do
trânsito, a cidade crescia mansamente. Não havia surgido ainda a febre dos edifícios altos;
nem mesmo o “Prédio Martinelli” – arranha-céu pioneiro em São Paulo, se não me engano do
Brasil – fora ainda construído. Não existia rádio, e televisão, nem em sonhos. Não se curtia
som em aparelhos de alta-fidelidade. Ouvia-se música em gramofones de tromba e manivela.
Havia tempo para tudo, ninguém se afobava, ninguém andava depressa.
GATTAI, Z. Anarquistas, graças a Deus. Rio de Janeiro: Record, 1986.
Os automóveis invadem a cidade
Naqueles tempos, a vida em São Paulo era tranquila. Poderia ser ainda mais, não fosse a invasão cada vez maior dos automóveis importados, circulando pelas ruas da cidade; grossos tubos, situados nas laterais externas dos carros, desprendiam, em violentas explosões, gases e fumaça escura. Estridentes fonfons de buzinas, assustando os distraídos, abriam passagem para alguns deslumbrados motoristas que, em suas desabaladas carreiras, infringiam as regras de trânsito, muitas vezes chegando ao abuso de alcançar mais de 20 quilômetros à hora, velocidade permitida somente nas estradas. Fora esse detalhe, o do trânsito, a cidade crescia mansamente. Não havia surgido ainda a febre dos edifícios altos; nem mesmo o “Prédio Martinelli” – arranha-céu pioneiro em São Paulo, se não me engano do Brasil – fora ainda construído. Não existia rádio, e televisão, nem em sonhos. Não se curtia som em aparelhos de alta-fidelidade. Ouvia-se música em gramofones de tromba e manivela. Havia tempo para tudo, ninguém se afobava, ninguém andava depressa.
GATTAI, Z. Anarquistas, graças a Deus. Rio de Janeiro: Record, 1986.