Na reconstrução, pela memória, do ambiente escolar e de sua professora, o eu lírico recorre a
elementos que expõem uma visão
Escola da mestra Silvina
Minha escola primária...
Escola antiga de antiga mestra.
Repartida em dois períodos
para a mesma meninada,
Das 8 às 11, da 1 às 4.
Nem recreio, nem exames.
Nem notas, nem férias.
Sem cânticos, sem merenda...
Digo mal – sempre havia
distribuídos
alguns bolos de palmatória...
A granel?
Não, que a mestra
era boa, velha, cansada, aposentada.
Tinha já ensinado a uma geração
antes da minha.
CORALINA, C. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. São Paulo: Global, 1993.
Escola da mestra Silvina
Minha escola primária...
Escola antiga de antiga mestra.
Repartida em dois períodos
para a mesma meninada,
Das 8 às 11, da 1 às 4.
Nem recreio, nem exames.
Nem notas, nem férias.
Sem cânticos, sem merenda...
Digo mal – sempre havia
distribuídos
alguns bolos de palmatória...
A granel?
Não, que a mestra
era boa, velha, cansada, aposentada.
Tinha já ensinado a uma geração
antes da minha.
CORALINA, C. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. São Paulo: Global, 1993.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de Texto – Identificação de Ironia
Nesta questão, o ponto essencial é reconhecer a ironia utilizada pelo eu lírico ao relembrar práticas escolares do passado. Segundo a norma-padrão, ironia é a figura de linguagem em que se diz o contrário do que se pensa, de forma sutil muitas vezes para criticar (Houaiss, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
No poema de Cora Coralina, a autora relembra uma escola “sem recreio, nem exames, nem notas, nem férias”, combinando isso ao tom aparentemente “saudosista” ao mencionar “alguns bolos de palmatória... A granel?”. Logo em seguida corrige: “Não, que a mestra era boa, velha, cansada, aposentada”. Essa construção revela uma crítica disfarçada de aparente leveza sobre o rigor e as punições físicas comuns à época.
A alternativa correta é a letra A: “irônica em relação às antigas práticas pedagógicas”.
Ela está certa porque a ironia é percebida quando o texto aponta para exageros (“a granel?” sugere abundância de punições, mas logo é negado com delicadeza), efeito reforçado pelo contexto do poema e suas negativas (“nem recreio, nem exames...”). Assim, a ironia é uma crítica elegante, e não agressiva ou ressentida.
Por que as demais alternativas estão erradas?
- B) magoada pela infância de escassez e de maus tratos: Não há ressentimento ou tristeza profunda no tom do poema; prevalece a crítica sutil.
- C) nostálgica em função da percepção do envelhecimento: O tema não é envelhecimento e não há nostalgia positiva, mas uma avaliação crítica do passado escolar.
- D) questionadora acerca do perfil atual da escola e do aluno: O poema não compara o passado ao presente, só discorre sobre práticas do passado.
Dica de prova: Quando encontrar descrições aparentemente neutras ou até leves de situações negativas, desconfie da presença de ironia, principalmente se houver uma “correção” ou suavização logo em seguida.
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