Analisando o diálogo apresentado no texto, percebe-se que falhas na comunicação poderiam
ser minimizadas se o consumidor
"Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta,
aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem
outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é que se
diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio,
entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?"
"Infelizmente, cavalheiro..."
"Ora, você sabe do que eu estou falando."
"Estou me esforçando, mas..."
"Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?"
"Se o senhor diz, cavalheiro."
"Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber
o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero."
"Sim, senhor. Pontudo numa ponta."
"Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?"
VERISSIMO, L. F. Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1982.
"Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?"
"Infelizmente, cavalheiro..."
"Ora, você sabe do que eu estou falando."
"Estou me esforçando, mas..."
"Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?"
"Se o senhor diz, cavalheiro."
"Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero."
"Sim, senhor. Pontudo numa ponta."
"Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?"
VERISSIMO, L. F. Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1982.
Gabarito comentado
Comentário do professor:
Tema da questão: Interpretação de texto, com foco em compreensão dos elementos que dificultam ou facilitam a comunicação entre interlocutores.
A situação apresentada mostra um diálogo em que um consumidor tenta descrever um objeto, mas encontra dificuldade em ser entendido. O texto evidencia barreiras na comunicação, principalmente por causa de expressões vagas, imprecisas e falta de vocabulário específico. O atendente, por sua vez, demonstra dificuldade em compreender a descrição, recorrendo a respostas evasivas.
Estratégia para resolver questões do tipo: Procure identificar, no diálogo, palavras-chave que revelem o motivo da incompreensão, como “isso”, “uma espécie de”, “negócio”, “pontudo”, “entende?”, “não podia ser mais claro”, além de pausas e hesitações (“um, um...”, “como é que se diz?”). Essas marcas apontam para a imprecisão da linguagem do falante.
Alternativa correta:
B - evitasse expressões imprecisas.
Justificativa: O principal problema da comunicação no texto é o uso de expressões vagas e imprecisas (“negócio”, “coisa pontuda”, “uma espécie de encaixe”), o que impede que o atendente compreenda exatamente o que o consumidor deseja. Se o consumidor utilizasse termos mais claros e específicos, a comunicação seria muito mais eficiente. Isso está de acordo com a norma padrão da língua, que recomenda a precisão vocabular para evitar ambiguidades e ruídos na mensagem (cf. Gramática Normativa, Celso Cunha & Lindley Cintra, 2013).
Análise das alternativas incorretas:
A - empregasse marcas de oralidade.
Comentário: O texto já está repleto de marcas de oralidade (pausas, hesitações, expressões informais). Isso não resolve o problema; pelo contrário, pode até dificultar a compreensão em situações formais.
C - eliminasse a representação gestual.
Comentário: Não há indicação clara no texto de que gestos estejam sendo utilizados. E, muitas vezes, gestos ajudam na comunicação, especialmente quando as palavras faltam. Eliminar gestos não resolveria a dificuldade apresentada.
D - usasse a linguagem informal.
Comentário: O consumidor já utiliza linguagem informal, inclusive com expressões coloquiais e indefinidas. Isso não contribuiu para a clareza, pois a informalidade, neste caso, intensifica a imprecisão.
Dica para provas: Sempre que o enunciado mencionar falhas de comunicação, procure alternativas que envolvam precisão, clareza e objetividade na linguagem. Evite respostas que apenas reforçam o problema apresentado.
Resumo das estratégias: Para interpretar textos, destaque palavras e expressões que indicam dúvida, imprecisão ou falta de clareza. Questione sempre: O interlocutor está sendo claro? O vocabulário é preciso?
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