Podemos caracterizar como expressões de ideias opostas no texto II:
TEXTO II
Nenhum país é tão pequeno como o nosso. Nele só existem dois lugares: a cidade e a Ilha. A
separá-los, apenas um rio. Aquelas águas, porém, afastam mais que a sua própria distância. Entre um e outro
lado reside um infinito. São duas nações, mais longínquas que planetas. Somos um povo, sim, mas de duas
gentes, duas almas.
As casas de cimento estão em ruína, exaustas de tanto abandono. Não são apenas casas destroçadas:
é o próprio tempo desmoronando. Ainda vejo numa parede o letreiro já sujo pelo tempo: “A nossa terra será o
túmulo do capitalismo”. Na guerra, eu tivera visões que não queria repetir. Como se essas lembranças viessem
de uma parte de mim já morta.
Tudo está sendo queimado pela cobiça dos novos-ricos. É isso que sucede em sua opinião. A Ilha é um
barco que funciona às avessas. Flutua porque tem peso. Tem gente feliz, tem árvore, tem bicho e chão parideiro.
Quando tudo isso lhe for tirado, a Ilha se afunda. A Ilha é o barco, nós somos o rio.
(Mia Couto)
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de texto, com ênfase na oposição semântica (antonímia) entre ideias.
Para chegar à resposta correta, é essencial reconhecer expressões ou trechos que explicitam contrastes claros de sentido dentro do texto. Segundo a gramática normativa (Cf. Bechara, Moderna Gramática Portuguesa), a antonímia ocorre quando há oposição de sentido entre lexemas, ampliando o significado e a expressividade do texto.
Justificativa da alternativa correta (D – um povo/duas gentes):
No texto, o narrador afirma:
“Somos um povo, sim, mas de duas gentes, duas almas.”
Observe a conjunção adversativa “mas”, indicativo clássico de oposição. “Um povo” sugere unidade, enquanto “duas gentes” reforça a divisão. A frase evidencia a dicotomia central do texto: a existência de uma aparente unidade nacional, contraposta à realidade fragmentada e dual da Ilha e da cidade.
Análise das alternativas incorretas:
A) cimento/ruína: Não constituem antônimos diretos. “Cimento” alude à construção, porém o contraste com “ruína” é indireto, pois ambos aparecem no contexto de abandono, sem relação aberta de oposição.
B) essa terra/túmulo: Não são opostos. O texto sugere que a terra poderia transformar-se em túmulo, mas não há relação de antonímia; está mais para metáfora de transformação negativa.
C) casas destroçadas/tempo desmoronando: Ambos expressam deterioração e perda, não oposição.
E) duas nações/planetas: O texto utiliza “planetas” somente para ampliar a ideia de distância entre as nações, e não para opor conceitos.
Estratégia de resolução:
Fique atento a conjunções adversativas (“mas”, “porém”), construções que apresentam duas faces de uma mesma realidade, ou vocábulos com clara relação de contrariedade. Sempre procure evidências explícitas no texto, e desconfie de alternativas que sugerem apenas causas, consequências ou metáforas – a oposição semântica exige contraste claro, exatamente como ocorre em “um povo/duas gentes”.
Referência teórica: Cunha & Cintra, “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, apontam que a antonímia é base para oposições textuais, sendo fundamental para a coesão do discurso.
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