O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. [...] Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida, operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se.
Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se- lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias. (CUNHA, 2001, p. 207-208).
Sobre a obra da qual foi extraído o fragmento em evidência, muito conhecida pela análise histórica que faz sobre a Guerra de Canudos (1987), mas que realiza um grande exame sobre a terra e o homem do Nordeste, através de uma ótica permeada pelo positivismo, é correto afirmar:
Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se- lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias. (CUNHA, 2001, p. 207-208).
Sobre a obra da qual foi extraído o fragmento em evidência, muito conhecida pela análise histórica que faz sobre a Guerra de Canudos (1987), mas que realiza um grande exame sobre a terra e o homem do Nordeste, através de uma ótica permeada pelo positivismo, é correto afirmar:
Gabarito comentado
O
trecho citado acima faz parte do livro “Os Sertões”, escrito por Euclides da
Cunha, e publicado em 1902. Embora seja uma obra literária, o livro também pode
ser compreendido como um marco para o desenvolvimento da Sociologia no Brasil,
já que o autor atenta para o processo de formação do povo brasileiro, fazendo
um perfil dos tipos humanos – como é possível ver no trecho citado, em que ele
menciona o sertanejo – e as condições de existência no país. Nesse sentido, é
possível afirmar que ele antecedeu a geração de ensaístas brasileiros da década
de 1930, em que se destacaram Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, entre
outros, cuja preocupação central também era analisar o processo de formação do
Brasil. Todavia, diferentemente de um autor como Sérgio Buarque, a relação
entre o público e o privado, como uma característica central para compreender
esse processo, não havia sido enfatizada por Euclides da Cunha. Desse modo, a
opção “a” está incorreta. O trecho citado também não tem relação com o livro
“Raízes do Brasil”, na medida em que Sérgio Buarque não faz referência aos
tipos humanos encontrados no país e suas características físicas e
psicológicas. Logo, a opção “b” está incorreta. A opção “c” também está
incorreta, visto que o autor de “Os sertões” não analisou uma unidade nacional,
e sim as disparidades entre um Brasil litorâneo e cosmopolita e o interior do
país, com tipos como o sertanejo. A opção “d” também está incorreta, pois a
ideia de miscigenação não tinha uma centralidade na obra de Euclides da Cunha,
e sim na de Gilberto Freyre, especialmente, no livro “Casa grande e senzala”.
A
opção correta, portanto, é a “e”, que atenta justamente para a construção de um
perfil psicológico do sertanejo, um dos destaques do livro “Os sertões”.