Memorial de Aires é o último romance escrito por Machado de Assis, tendo sido publicado em 1908, ano da morte do
autor. Obra de caráter autobiográfico, apresenta-se como diversas entradas em uma espécie de diário, em que a relação
com a velhice, as dificuldades dos relacionamentos amorosos e a futilidade da elite brasileira no final do século XIX são
retratadas por meio de um série de episódios que se intercalam.
O trecho a seguir foi retirado do prefácio Advertência, que introduz a obra.
Quem me leu Esaú e Jacó talvez reconheça estas palavras do prefácio: “Nos lazeres do ofício escrevia o Memorial,
que, apesar das páginas mortas ou escuras, apenas daria (e talvez dê) para matar o tempo da barca de Petrópolis”.
Referia-me ao Conselheiro Aires. Tratando-se agora de imprimir o Memorial, achou-se que a parte relativa a uns
dois anos (1888-1889), se for decotada de algumas circunstâncias, anedotas, descrições e reflexões, — pode dar
uma narração seguida, que talvez interesse, apesar da forma de diário que tem. Não houve pachorra de a redigir à
maneira daquela outra, — nem pachorra, nem habilidade. Vai como estava, mas desbastada e estreita, conservando
só o que liga o mesmo assunto. O resto aparecerá um dia, se aparecer algum dia.ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. In:______. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986. p. 1096
Com base na leitura dos textos e nas obras de Machado de Assis, é correto afirmar que
Gabarito comentado
Tema central: A questão exige interpretação de texto e conhecimento sobre a característica do romance psicológico na obra de Machado de Assis, além de diferenciação entre narradores e movimentos literários (realismo, ironia, crítica social).
Justificativa da alternativa correta (E): Dom Casmurro e Memorial de Aires são, de fato, romances psicológicos. Nessas obras, Machado de Assis aprofunda a análise dos sentimentos, inquietações e dúvidas dos personagens, valorizando o que há de mais íntimo em suas motivações e ações. Essa ênfase está clara na focalização dos pensamentos, percepções e hesitações dos narradores: Bentinho questiona eternamente a fidelidade de Capitu, enquanto Aires observa e reflete sobre a dinâmica emocional das pessoas ao seu redor. Isso caracteriza o chamado monólogo interior e a exploração de motivos íntimos, centrais no romance psicológico.
Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, “a análise psicológica do comportamento e das motivações humanas é uma das marcas mais profundas do realismo machadiano”.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta. Tanto Memorial de Aires quanto O Alienista apresentam crítica social e ironia, um dos traços mais fortes do estilo de Machado.
B) Incorreta. Em Quincas Borba, o protagonista (Rubião) não consegue realizar seus objetivos, sendo manipulado e iludido. Memorial de Aires não foca na superação de imposições sociais, mas na observação da sociedade.
C) Incorreta. Memórias Póstumas de Brás Cubas e Memorial de Aires têm narrador em primeira pessoa, e não em terceira pessoa. Ambos os narradores têm acesso privilegiado à própria história.
D) Incorreta. Iaiá Garcia não integra a trilogia realista do autor (essa trilogia é formada por Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro).
Estratégias e orientações: Para essas questões, fique atento a termos como narrador (verifique se é em primeira ou terceira pessoa), movimento literário e traços psicológicos das personagens. Palavras como “nunca”, “sempre”, “exclusivamente” costumam indicar generalizações perigosas. Leia atentamente cada alternativa, buscando coerência com o texto e com os conhecimentos literários.
Conclusão: A letra E é a correta, pois reconhece o mergulho psicológico e o foco nos sentimentos íntimos das personagens em ambas as obras machadianas.
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