O excerto "Chamava-se João Teodoro, só." ratifica a característica principal do protagonista que é a de:
Texto IV: base para a questão.
Um homem de consciência
Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o desaparecimento visível de sua Itaoca.
— Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons - agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está acabando...
João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.
— É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.
Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora
nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada...
Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem
que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa
colossal ser delegado - e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!...
João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas.
Pela madrugada, botou-as num burro, montou no seu cavalo magro e partiu.
— Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?
— Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.
— Mas, como? Agora que você está delegado?
— Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.
E sumiu."
(Monteiro Lobato, CIDADES MORTAS. 12a Edição. São Paulo, Editora Brasiliense, 1965)
Texto IV: base para a questão.
Um homem de consciência
Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o desaparecimento visível de sua Itaoca.
— Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons - agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está acabando...
João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.
— É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.
Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada...
Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado - e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!...
João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada, botou-as num burro, montou no seu cavalo magro e partiu.
— Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?
— Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.
— Mas, como? Agora que você está delegado?
— Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus. E sumiu."
(Monteiro Lobato, CIDADES MORTAS. 12a Edição. São Paulo, Editora Brasiliense, 1965)
Gabarito comentado
TEMA CENTRAL DA QUESTÃO: Interpretação de Texto, com foco no sentido do advérbio “só” na frase apresentada.
1. Explicação Didática:
O núcleo da questão está no entendimento do significado do termo “só” na frase “Chamava-se João Teodoro, só.”
Pela semântica e de acordo com a gramática normativa (Bechara, 2009), o advérbio “só”, nesse contexto, equivale a “apenas” ou “somente”, marcando que o personagem não possuía títulos, cargos ou destaques: ele era apenas João Teodoro.
Esse uso enfatiza a ausência de mérito, posição e prestígio do personagem — não sendo alguém importante socialmente e “nunca tendo sido nada na vida”, conforme ressalta o próprio enunciado do texto (“Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa”).
2. Justificativa da Alternativa Correta (B):
A alternativa B) Nunca ter sido nada na vida é a correta. Ela conecta diretamente o significado do advérbio “só” com a principal característica do protagonista: sua simplicidade e ausência de relevância social. A frase fundamenta e “ratifica” (confirma) a ideia central trazida já no início do texto: João Teodoro era uma pessoa comum, sem feitos ou cargos.
3. Análise das Alternativas Incorretas:
A) Ser solitário: “Só” pode, em outros contextos, indicar solidão (“ele está só”), mas, nesta passagem, refere-se à simplicidade do nome e não à condição de estar sozinho.
C) Ser o mais pacato e modesto dos homens: Apesar dessas características serem mencionadas, o termo “só” não tem relação direta com elas, e sim com a ausência de prestígio.
D) Ser honestíssimo e lealíssimo: A honestidade e lealdade são qualidades apontadas no texto, mas não se relacionam com a escolha do termo “só”.
E) Ser desprestigiado por si mesmo: Embora o personagem tenha baixa autoestima, “só” aqui não exprime autodepreciação, e sim ausência de títulos ou destaque social.
4. Dica de Estratégia:
Em questões de interpretação, atente ao contexto imediato da palavra. Sempre relacione o termo ao trecho completo e descarte generalizações baseadas apenas em um sentido comum da palavra.
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