Questão b2f4fddd-a6
Prova:FGV 2015, FGV 2015
Disciplina:História
Assunto:História do Brasil, Brasil Monárquico – Segundo Reinado 1831- 1889

      O excerto a seguir faz parte do parecer de uma comissão da Câmara dos Deputados sobre a lei de 1871, que discutia a escravidão no Brasil.

      “Sem educação nem instrução, embebe-se nos vícios mais próprios do homem não civilizado. Convivendo com gente de raça superior, inocula nela os seus maus hábitos. Sem jus ao produto do trabalho, busca no roubo os meios de satisfação dos apetites. Sem laços de família, procede como inimigo ou estranho à sociedade, que o repele. Vaga Vênus arroja aos maiores excessos aquele ardente sangue líbico; e o concubinato em larga escala é tolerado, quando não animado, facultando-se assim aos jovens de ambos os sexos, para espetáculo doméstico, o mais torpe dos exemplos. Finalmente, com as degradantes cenas da servidão, não pode a mais ilustrada das sociedades deixar de corromper-se."

                                                          (apud Sidney Chalhoub, Machado de Assis, historiador. 2003)

No trecho, há um argumento

A
político, que reconhece a importância da emancipação dos escravos, ainda que de forma paulatina, para a construção de novos elementos de cidadania social, condição mínima para o país abandonar a violência cotidiana e sistemática contra a maioria da população.
B
social, que assinala a inconsistência da defesa do fim da escravidão no país, em razão da incapacidade dos homens escravizados de participar das estruturas hierárquicas e culturais, estabelecidas ao longo dos séculos, durante os quais prevaleceu o trabalho compulsório.
C
econômico, que distingue os cidadãos ativos dos passivos, estes considerados um estorvo para as atividades produtivas, fossem na agricultora ou na procura de metais preciosos, por causa da desmotivação para o trabalho, elemento central para explicar a estagnação econômica do país.
D
cultural, que se consubstancia na impossibilidade da convivência entre homens livres e homens libertos e tenderia a produzir efeitos sociais devastadores, como tensões raciais violentas e permanentes, a exemplo do que já ocorria no sul dos Estados Unidos.
E
moral, que aponta para os malefícios que a experiência da escravidão provoca nos próprios escravos e que esses malefícios terminam por contaminar toda a sociedade, mostrando, em síntese, que os brancos eram muito prejudicados pela ordem escravocrata.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Resposta correta: E

Tema central: trata-se do debate sobre a escravidão no Brasil (contexto da Lei de 1871 — Lei do Ventre Livre) e, mais especificamente, de um argumento que descreve os efeitos morais da escravidão sobre os escravizados e sobre a sociedade.

Resumo teórico: em questões de História do Brasil sobre discursos abolicionistas ou conservadores, é útil distinguir tipos de argumentos: moral (valores, caráter, corrupção), social (posições na hierarquia social), econômico (produtividade, mercado) e político (cidadania, instituições). Aqui o texto usa vocabulário de degradação, vícios e contaminação moral — campo semântico tipicamente moral.

Justificativa da alternativa E: o trecho enfatiza expressões como "vícios", "corromper-se", "degradantes cenas", "inocula" — todas indicando que a escravidão produz malefícios morais nos escravizados que acabam por contaminar a sociedade branca. Logo, o argumento é moral, como afirma a alternativa E.

Análise das alternativas incorretas:

A — fala de argumento político sobre emancipação e cidadania progressiva; o excerto não defende emancipação nem construção de cidadania, mas alerta para suposta contaminação moral.

B — apresenta um argumento social sobre incapacidade dos escravizados participarem das estruturas; o texto não discute hierarquias ou falta de preparo institucional, mas comportamento moral.

C — suporia um argumento econômico (desmotivação e estagnação); o excerto não trata de produtividade, trabalho ou economia.

D — fala em argumento cultural sobre incompatibilidade e tensões raciais permanentes (ex.: Sul dos EUA); o texto aponta contaminação moral, não desenvolve análise sobre convivência institucionalizada ou comparações internacionais.

Dica de interpretação: ao ler o enunciado, identifique o campo semântico dominante (palavras-chave) e elimine alternativas cujo foco (econômico, político, etc.) não aparece no trecho.

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