Na crônica vista acima, Marisa Lajolo revela que adota
uma concepção de leitura:
Como e por que leio o romance brasileiro
Leitora apaixonada, fã de carteirinha, me envolvo com os
romances de que gosto: curto, torço, roo as unhas, leio de
novo um pedaço que tenha me agradado de forma
particular. Se não gosto, largo no meio ou até no começo. O
autor tem vinte ou trinta páginas para me convencer de que
seu livro vai fazer diferença. Pois acredito piamente que a
leitura faz a diferença. Se não, adeus! O livro volta para a
estante e vou cuidar de outra coisa...
Ao terminar a leitura de um romance de que gosto, fico
com vontade de dividi-lo com os amigos. Recomendar a
leitura, emprestar, dar de presente. Mas, sobretudo,
discutir. Nada melhor do que conversar sobre livros... eu
acho uma coisa, meu amigo acha outra, a colega discorda
de nós dois...
Na discussão, pode tudo, só não pode não achar nada
nem concordar com todo mundo. No fim do papo, cada um
fica mais cada um, ouvindo os outros. Quem sabe o livro
tem mais de um sentido? Como foi mesmo aquele lance? E
aquele personagem... vilão ou herói?
Na minha geração e nas minhas relações, é assim que
se lê romance.
A leitura de romance, no entanto, não é só esta leitura
envolvida e vertiginosa. Junto com o suspense, ao lado do
mergulho na história, transcorre o tempo de decantação.
Enredo, linguagem e personagens depositam-se no leitor.
Passam a fazer parte da vida de quem lê. Vêm à tona meio
sem aviso, aos pedaços, evocados não se sabe bem por
quais articulações...
Vida e literatura enredam-se em bons e em maus
momentos, e os romances que leio passam a fazer parte da
minha vida, me expressam em várias situações.
Marisa Lajolo. Como e por que ler o romance brasileiro. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2004, p. 13-14.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto. A questão exige perceber a visão da autora sobre como se deve ler um romance, indo além da leitura literal para identificar conceitos de leitura interativa e dialogada.
Justificativa da alternativa correta (B):
O texto retrata a relação da autora com romances: ela se envolve ativamente com as obras, compartilha leituras, debate pontos de vista com amigos e destaca o valor da discussão sobre o que leu. Ao afirmar “nada melhor do que conversar sobre livros” e que “na discussão, pode tudo”, a autora evidencia uma leitura participativa (o leitor se engaja), interativa (há trocas com outros leitores) e dialógica (produz sentido por meio do diálogo). Esses conceitos estão alinhados à visão sociointeracionista de leitura apresentada por Koch & Elias e Paulo Freire, na qual ler é um ato de interação e construção coletiva de significados, e não simples decodificação de palavras.
Essas características ficam claras também nos trechos em que a autora sente vontade de dividir suas impressões e onde indica que o romance “passa a fazer parte” de sua vida, em diversos momentos, mostrando profundidade emocional e intelectual com relação à leitura.
Análise das alternativas incorretas:
A) “Insensível, silenciosa e presa à forma do texto” está incorreta porque a leitura é expressiva, interativa e não se limita apenas ao aspecto formal.
C) “Aparente, mecânica, embora dinâmica” – não há automatismo ou superficialidade; o texto ressalta uma vivência profunda e consciente.
D) “Indiferente, neutra, mas investigativa” – ler, para a autora, é algo apaixonado, nunca indiferente ou neutro.
E) “Imparcial, automática e pouco profunda” contrasta totalmente com o retrato de envolvimento pessoal e reflexão profunda do texto.
Dica para provas: Procure sempre identificar se o autor do texto se coloca como alguém ativo na leitura (enfrenta, questiona, debate) ou apenas lê de maneira passiva. Termos como “compartilhar”, “discutir” e “sentir parte” geralmente indicam leitura participativa e interativa.
Referências: Koch & Elias (2006), Paulo Freire, Manual de Redação da Presidência da República, Celso Cunha & Lindley Cintra.
Gabarito: B) participativa, interativa e dialógica.
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