A compreensão consistente do Texto exige que o
identifiquemos, em suas particularidades de
composição, como sendo do tipo:
A geografia linguística no Brasil
É por meio da língua que o
homem expressa suas ideias, as ideias de sua geração, as ideias da comunidade a
que pertence, as ideias de seu tempo. A todo instante, utiliza-a de acordo com
uma tradição que lhe foi transmitida, e contribui para sua renovação e
constante transformação. Cada falante é, a um tempo, usuário e agente
modificador de sua língua, nela imprimindo marcas geradas pelas novas situações
com que se depara.
Nesse sentido, pode-se afirmar que, na língua, se projeta a
cultura de um povo, compreendendo-se cultura no seu sentido mais amplo, aquele
que abarca “o conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das
instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos
coletivamente e característicos de uma sociedade”, segundo o novo Aurélio.
(...)
Ao falar, um indivíduo transmite, além da mensagem contida em seu
discurso, uma série de dados que permite a um interlocutor atento não só
depreender seu estilo pessoal, mas também filiá-lo a um determinado grupo.
A
entonação, a pronúncia, a escolha vocabular, a preferência por determinadas
construções frasais, os mecanismos morfológicos que são peculiares a
determinado usuário podem servir de índices que identifiquem: a) o país ou a
região de que se origina; b) o grupo social de que faz parte (seu grau de
instrução, sua faixa etária, seu nível socioeconômico, sua atividade
profissional); c) a situação (formal) ou (informal) em que se encontra. (...)
O
Brasil, em decorrência do processo de povoamento e colonização a que foi
submetido bem como das condições em que se deu sua independência política e seu
posterior desenvolvimento, apresenta grandes contrastes regionais e sociais,
estes últimos perceptíveis mesmo em grandes centros urbanos, em cuja periferia
se concentram comunidades mantidas à margem do progresso.
Um retrato fiel,
atual, de nosso país teria de colocar lado a lado: executivos de grandes
empresas; técnicos que manipulam, com desenvoltura, o computador; operários de
pequenas, médias e grandes indústrias; vaqueiros isolados em latifúndios;
cortadores de cana; pescadores artesanais; plantadores de mandioca em humildes
roças; viajantes que comerciam pelo sertão; indígenas aculturados. (...)
Detentores de antigos costumes portugueses aqui reelaborados pelo contato com
outra terra e outras gentes ou, já em acelerado processo de mestiçagem étnica e
linguística, esquecidos das origens, esses homens e mulheres guardam, na sua
forma de expressão oral, as marcas de nossa identidade linguístico-cultural e a
resposta a muitas indagações e a diversas hipóteses sobre a história e o estado
atual do português do Brasil.
(Sílvia F. Brandão. A
geografia linguística no Brasil. São Paulo: Ática, 1991. p.5-17. Adaptado)
A geografia linguística no Brasil
É por meio da língua que o homem expressa suas ideias, as ideias de sua geração, as ideias da comunidade a que pertence, as ideias de seu tempo. A todo instante, utiliza-a de acordo com uma tradição que lhe foi transmitida, e contribui para sua renovação e constante transformação. Cada falante é, a um tempo, usuário e agente modificador de sua língua, nela imprimindo marcas geradas pelas novas situações com que se depara.
Nesse sentido, pode-se afirmar que, na língua, se projeta a cultura de um povo, compreendendo-se cultura no seu sentido mais amplo, aquele que abarca “o conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade”, segundo o novo Aurélio. (...)
Ao falar, um indivíduo transmite, além da mensagem contida em seu discurso, uma série de dados que permite a um interlocutor atento não só depreender seu estilo pessoal, mas também filiá-lo a um determinado grupo.
A entonação, a pronúncia, a escolha vocabular, a preferência por determinadas construções frasais, os mecanismos morfológicos que são peculiares a determinado usuário podem servir de índices que identifiquem: a) o país ou a região de que se origina; b) o grupo social de que faz parte (seu grau de instrução, sua faixa etária, seu nível socioeconômico, sua atividade profissional); c) a situação (formal) ou (informal) em que se encontra. (...)
O Brasil, em decorrência do processo de povoamento e colonização a que foi submetido bem como das condições em que se deu sua independência política e seu posterior desenvolvimento, apresenta grandes contrastes regionais e sociais, estes últimos perceptíveis mesmo em grandes centros urbanos, em cuja periferia se concentram comunidades mantidas à margem do progresso.
Um retrato fiel, atual, de nosso país teria de colocar lado a lado: executivos de grandes empresas; técnicos que manipulam, com desenvoltura, o computador; operários de pequenas, médias e grandes indústrias; vaqueiros isolados em latifúndios; cortadores de cana; pescadores artesanais; plantadores de mandioca em humildes roças; viajantes que comerciam pelo sertão; indígenas aculturados. (...)
Detentores de antigos costumes portugueses aqui reelaborados pelo contato com outra terra e outras gentes ou, já em acelerado processo de mestiçagem étnica e linguística, esquecidos das origens, esses homens e mulheres guardam, na sua forma de expressão oral, as marcas de nossa identidade linguístico-cultural e a resposta a muitas indagações e a diversas hipóteses sobre a história e o estado atual do português do Brasil.
(Sílvia F. Brandão. A geografia linguística no Brasil. São Paulo: Ática, 1991. p.5-17. Adaptado)