Questão b0f1596b-15
Prova:FGV 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No texto, o poeta

                                        Remissão


                          Tua memória, pasto de poesia,

                           tua poesia, pasto dos vulgares,

                           vão se engastando numa coisa fria

                           a que tu chamas: vida, e seus pesares.


                            Mas, pesares de quê? perguntaria,

                            se esse travo de angústia nos cantares,

                            se o que dorme na base da elegia

                            vai correndo e secando pelos ares,


                             e nada resta, mesmo, do que escreves

                             e te forçou ao exílio das palavras,

                             senão contentamento de escrever,


                              enquanto o tempo, em suas formas breves

                              ou longas, que sutil interpretavas,

                              se evapora no fundo de teu ser?

                            Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.  

A
questiona incisivamente o seu fazer poético, pondo em causa o sentido mesmo dessa prática.
B
interpela diretamente o leitor, instando-o a abandonar as ilusões literárias tradicionais remanescentes.
C
invoca o espectro do pai morto, para pedir-lhe que o redima de seus fracassos.
D
apostrofa a memória de Mário de Andrade, seu primeiro mestre de poesia, dedicando-lhe um canto alegórico.
E
dialoga com um escritor classicista imaginário, interrogando-o a respeito das contradições em que incorre.

Gabarito comentado

A
Ana OliveiraMonitor do Qconcursos

Comentário da Questão – Interpretação de Texto

Tema central: Esta questão aborda interpretação de texto, mais especificamente o reconhecimento do uso da metalinguagem na produção poética. Exige análise da intenção do eu-lírico e dos elementos implícitos do poema de Carlos Drummond de Andrade.

Alternativa correta – A:

Justificativa: O poeta questiona incisivamente o seu fazer poético, refletindo sobre o sentido e a utilidade de sua própria poesia. Essa característica é evidente nas passagens “tua memória, pasto de poesia”, “tua poesia, pasto dos vulgares” e ao mencionar “vida, e seus pesares”, mostrando um olhar crítico e até desencantado sobre o papel da poesia e sobre o motivo de escrevê-la.

Esse tipo de questionamento é chamado de metalinguagem, conceito destacado, por exemplo, por Evanildo Bechara em sua gramática: "A metalinguagem ocorre quando a linguagem fala de si própria." O poeta volta-se para seu próprio texto e expõe dúvidas e incômodos quanto ao fazer literário. A alternativa A traduz fielmente esse movimento autorreflexivo.

Análise das alternativas incorretas:

B) Não há interpelação direta ao leitor; o poema é introspectivo, centrado no próprio sujeito poético.

C) Não há invocação do pai morto nem referência à busca de redenção familiar ou pessoal.

D) A memória de Mário de Andrade ou dedicatória não aparece no texto; trata-se de uma leitura equivocada do destinatário do poema.

E) Não há diálogo com escritor classicista ou figura imaginária; a reflexão é interna, e não voltada a outro personagem.

Estratégia para questões desse tipo: Fique atento a palavras e construções que denunciem introspecção e autorreflexão. O uso de perguntas e de expressões como “o que resta do que escreves” é um forte indício de questionamento sobre o próprio fazer poético.

Resumo: A correta é A porque revela o aspecto metalinguístico e crítico do eu-lírico em relação à escrita, conforme defendem gramáticos como Cunha & Cintra e Bechara em suas obras.

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