Considere a seguinte afirmação do pensador
indígena Ailton Krenak: “Nas narrativas tradicionais
do nosso povo, das nossas tribos, não tem data, é
quando foi criado o fogo, é quando foi criada a lua,
quando nasceram as estrelas, quando nasceram as
montanhas, quando nasceram os rios. Antes, antes,
já existia uma memória puxando o sentido das coisas,
relacionando o sentido dessa fundação do mundo com
a vida, com o comportamento nosso, como aquilo que
pode ser entendido como o jeito de viver”.
Krenak, Ailton. Antes o mundo não existia. In: Novaes,
Adauto (org.). Tempo e história. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.
A afirmação, acima apresentada, se baseia em uma
concepção de narrativas tradicionais, segundo a qual
elas
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: trata-se da natureza das narrativas tradicionais (mitos, lendas, relatos orais) e de sua função social: como elas preservam uma memória coletiva transmitida entre gerações e oferecem sentido ético e normativo à vida comunitária.
Resumo teórico breve: Narrativas tradicionais não se prendem à datação histórica moderna; elas explicam a origem do mundo e orientam comportamentos. Conceitos úteis: memória coletiva (Maurice Halbwachs), tradição oral como veículo da memória social (Jan Vansina, Oral Tradition as History) e perspectivas indígenas sobre tempo cíclico/sagrado (Ailton Krenak).
Justificativa da alternativa A: A afirmação de Krenak enfatiza que as histórias indígenas são transmitidas oralmente e constituem uma memória compartilhada que conecta a fundação do mundo ao "jeito de viver" — isto é, estabelecem normas e sentidos para a existência natural e social. Portanto, A descreve com precisão: memória coletiva, transmissão intergeracional e sentido ético da narrativa.
Análise das alternativas incorretas:
B — Incorreta: exagera ao dizer que essas narrativas "são anteriores à história e à vida social" no sentido de ausência de explicação. Krenak não nega sentido ou explicação; afirma apenas que não se baseiam em datas cronológicas. A alternativa distorce o papel explicativo e normativo das narrativas.
C — Incorreta: afirma corretamente que há função ética e orientação cósmica, mas erra ao afirmar que a argumentação “não é lógica” como se isso desqualificasse o conteúdo. Narrativas tradicionais têm coerência interna, racionalidade simbólica e validade normativa mesmo que não sigam a lógica formal da ciência.
D — Incorreta: sugere oposição direta à narrativa histórica e reduz a datação a um “meio de dominação”. Isso introduz uma leitura política não presente na afirmação de Krenak, que destaca ausência de datas, não hostilidade às práticas historiográficas.
Dica para provas: procure palavras-chave no enunciado — aqui: "memória", "transmissão", "jeito de viver", "sentido" — e descarte alternativas que acrescentem elementos não mencionados (ex.: hostilidade à história, ausência total de explicações).
Fontes recomendadas: A. Krenak, "Antes o mundo não existia"; Maurice Halbwachs, "La mémoire collective"; Jan Vansina, "Oral Tradition as History".
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