Questão b0959b0b-15
Prova:FGV 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

Sabendo-se que “alegoria consiste em uma metáfora que, em um dado contexto, desdobra-se em outras”, pode-se apontar o emprego desse recurso, sobretudo, no seguinte trecho do texto:

                                        PARDAIS NOVOS


      Um dia o meu telefone, instalado à cabeceira de minha cama, retiniu violentamente às sete da manhã. Estremunhado tomei do receptor e ouvi do outro lado uma voz que dizia: “Mestre, sou um pardal novo. Posso ler-lhe uns versos para que o senhor me dê a sua opinião?” Ponderei com mau humor ao pardal que aquilo não eram horas para consultas de tal natureza, que ele me telefonasse mais tarde. O pardal não telefonou de novo: veio às nove e meia ao meu apartamento.

      Mal o vi, percebi que não se tratava de pardal novo. Ele mesmo como que concordou que o não era, pois perguntando-lhe eu a idade, hesitou contrafeito para responder que tinha 35 anos. Ainda por cima era um pardal velho!

      Desde esse dia passei a chamar de pardais novos os rapazes que me procuram para mostrar-me os seus primeiros ensaios de voo no céu da poesia. Dizem eles que desejam saber se têm realmente queda para o ofício, se vale a pena persistir etc. Fico sempre embaraçado para dar qualquer conselho. A menos que se seja um Rimbaud ou, mais modestamente, um Castro Alves, que poesia se pode fazer antes dos vinte anos? Como Mallarmé afirmou certa vez que todo verso é um esforço para o estilo, acabo aconselhando ao pardal que vá fazendo os seus versinhos, sem se preocupar com a opinião de ninguém, inclusive a minha.

      (...)

                                                 Manuel Bandeira, Melhores crônicas. Global Editora. 

A
“Como Mallarmé afirmou certa vez que todo verso é um esforço para o estilo, acabo aconselhando ao pardal que vá fazendo os seus versinhos, sem se preocupar com a opinião de ninguém, inclusive a minha”.
B
“Desde esse dia passei a chamar de pardais novos os rapazes que me procuram para mostrar-me os seus primeiros ensaios de voo no céu da poesia”.
C
“Ele mesmo como que concordou que o não era, pois perguntando-lhe eu a idade, hesitou contrafeito para responder que tinha 35 anos”.
D
“Mestre, sou um pardal novo. Posso ler-lhe uns versos para que o senhor me dê a sua opinião?”.
E
“Ponderei com mau humor ao pardal que aquilo não eram horas para consultas de tal natureza, que ele me telefonasse mais tarde”.

Gabarito comentado

L
Laura SouzaMonitor do Qconcursos

Tema central: Figuras de linguagem – Alegoria. A questão exige a identificação do uso de alegoria, figura de linguagem que consiste em um encadeamento de metáforas, representando uma ideia abstrata por meio de imagens ou situações concretas.

Justificativa da alternativa correta (B):

No trecho da alternativa B (“Desde esse dia passei a chamar de pardais novos os rapazes que me procuram para mostrar-me os seus primeiros ensaios de voo no céu da poesia.”), Manuel Bandeira utiliza a alegoria para se referir aos jovens poetas. “Pardais novos” é uma imagem concreta que representa, figurativamente, aqueles que estão começando a tentar escrever poesia. A metáfora se desdobra: “ensaios de voo no céu da poesia” associa as tentativas dos jovens à tentativa dos pássaros em aprender a voar, multiplicando o significado. Trata-se, portanto, de uma representação simbólica construída a partir de várias comparações, o que caracteriza a alegoria segundo autores como Bechara e Celso Cunha & Lindley Cintra.

Por que as demais estão incorretas:

A) Expõe um conselho ao pardal, mas não desdobra a metáfora em múltiplos elementos simbólicos.
C) Refere-se apenas à idade do personagem, sem caracterizar um desdobramento de metáforas.
D) Apresenta a fala de um personagem que se autodenomina “pardal novo”, mas sem ligar essa metáfora a outros elementos (como ensaio de voo, céu da poesia etc.).
E) É apenas um diálogo sem carga simbólica ou alegórica ampliada.

Como identificar alegorias em provas de interpretação:

Pontue elementos imagéticos que se repetem e se relacionam, projetando sentido abstrato. Atenção a palavras que mudam de campo semântico – aqui, “pardal” é alguém que tenta voar, mas no universo da poesia. O padrão da alegoria é ir além da metáfora simples, sendo uma construção narrativa simbólica.

Regra/Conceito: Em gramáticas consagradas, como a de Evanildo Bechara, a alegoria é descrita como “metáfora desenvolvida”, compondo uma figura coesa e simbólica.

Resumo: A alternativa B é correta porque contém todos os elementos de uma alegoria – continuação de metáforas relacionadas, expandindo o sentido literal para o simbólico.

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