Questão b012c2e8-02
Prova:UEA 2018
Disciplina:Filosofia
Assunto:

Estando despertos ou dormindo, devemos nos persuadir somente pela evidência de nossa razão. Digo de nossa razão e não de nossa imaginação e de nossos sentidos. Mesmo que observemos o sol muito nitidamente, não devemos julgar por esse motivo que ele seja do tamanho que nós o vemos. A razão nos dita que todas as nossas ideias ou noções devem ter algum fundamento de verdade; pois seria impossível que Deus, que é inteiramente perfeito e verdadeiro, tenha colocado essas ideias em nós desprovidas desses fundamentos.

(Descartes. “Discurso do método”. In: Obras filosóficas, tomo I, 1988. Adaptado.)

A epistemologia cartesiana tem como fundamento

A
a validação metafísica do conhecimento racional.
B
o pressuposto de uma racionalidade intrínseca às coisas materiais.
C
o reconhecimento das verdades sustentadas pelas autoridades religiosas.
D
a certeza da infalibilidade do saber empírico.
E
a definição da imaginação como princípio ativo do conhecimento rigoroso.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Gabarito: Alternativa A

Tema central: A questão trata da epistemologia cartesiana — isto é, de como Descartes fundamenta o conhecimento. O trecho citado aponta que só a razão e a evidência racional devem guiar a persuasão, enquanto sentidos e imaginação não garantem a verdade. A presença de Deus como garante da veracidade das ideias é o ponto-chave para identificar corretamente a alternativa.

Resumo teórico progressivo: Na filosofia de René Descartes (Discourse on Method; Meditations), a dúvida metódica leva à busca de certezas indubitáveis (ex.: cogito). Para assegurar que as claras e distintas ideias sejam verdadeiras, Descartes recorre à figura de Deus: um Deus perfeito e veraz não enganaria o sujeito, daí a validação metafísica do conhecimento racional. Em suma: a razão fornece as ideias claras; Deus garante que essas ideias correspondem à verdade exterior.

Justificativa da alternativa correta (A): "Validação metafísica do conhecimento racional" traduz exatamente a estratégia cartesiana: estabelecer, por via metafísica (a existência e a veracidade divine), a confiabilidade da razão. O texto citado menciona explicitamente Deus como fundamento da verdade das ideias, confirmando A.

Análise das alternativas incorretas:

B — "Racionalidade intrínseca às coisas materiais": errado. Descartes não atribui à matéria razão intrínseca; ele separa res cogitans (mente) e res extensa (matéria). A garantia vem de Deus, não das coisas materiais.

C — "Verdades sustentadas pelas autoridades religiosas": errado. Descartes fundamenta no uso da razão e na garantia metafísica de Deus, não na autoridade institucional religiosa.

D — "Infalibilidade do saber empírico": contrário ao texto. O autor critica os sentidos e a imaginação como fontes inseguras; logo, não confere infalibilidade ao empírico.

E — "Imaginação como princípio ativo do conhecimento": errado. A imaginação é subordinada à razão em Descartes; não é princípio do conhecimento rigoroso.

Estratégia de prova: ao resolver, destaque termos como "Deus", "perfeito e verdadeiro", "razão" e "não da imaginação/sentidos". Essas expressões indicam a aposta de Descartes numa garantia metafísica da razão — pista direta para a alternativa A.

Fonte recomendada: Descartes, Discourse on Method e Meditations; introduções à epistemologia cartesiana em manuais de história da filosofia contemporânea.

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