Para o eu lírico, algumas palavras não lhe são prazerosas, enquanto outras merecem seu respeito. Para
explicá-las usa-as em sentido figurado que sugerem ao leitor imagens diferentes e criativas. Que
alternativa explica o sentido dos seguintes versos: “Não gosto de palavras fatigadas de informar.”
Leia o texto abaixo, para responder a questão.
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto de palavras fatigadas de informar.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da invencionática.Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Manuel de Barros. Memórias Inventadas: a infância. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto – análise semântica e sentido figurado (conotativo) de expressões poéticas.
O verso “Não gosto de palavras fatigadas de informar.” exige do candidato a interpretação do sentido conotativo (figurativo) da expressão. No texto, o eu lírico manifesta preferências estéticas e valoriza palavras que ultrapassam o simples ato de informar, dando espaço ao potencial imagético e emotivo da linguagem.
Segundo a norma-padrão, e como reforçado por Celso Cunha & Lindley Cintra, A linguagem poética frequentemente utiliza palavras em sentido figurado para evocar emoções, imagens ou reflexões – diferentemente da linguagem denotativa, objetiva e informativa.
Justificativa da alternativa correta (E):
E) Palavras que informam, mas não emocionam ou não estimulam a imaginação.
É justamente este o cerne do verso: as palavras cansadas de só informar são aquelas incapazes de gerar emoção ou criatividade. O eu lírico demonstra insatisfação com palavras que apenas transmitem fatos, sem provocar efeitos sensoriais ou afetivos no leitor – uma valorização clara da função poética da linguagem (cf. Bechara, “Moderna Gramática Portuguesa”).
Análise das alternativas incorretas:
A) Palavras difíceis que precisam ser procuradas nos dicionários para entendê-las.
Errada. Não se trata de dificuldade vocabular, mas de falta de emoção.
B) Palavras que não informam, porém emocionam e estimulam a imaginação.
Errada. Ao contrário: o eu lírico valoriza justamente essas palavras.
C) Palavras que não têm nenhum sentido dentro do texto, não emocionam.
Errada. O trecho não se refere a palavras sem sentido, mas àquelas esgotadas em sua função de informar.
D) Palavras que desinformam, mas não emocionam e ainda desestimulam.
Errada. O eu lírico não está preocupado com desinformação, e sim com o aspecto meramente informativo das palavras.
Dica de prova: Em textos poéticos, fique atento ao caráter subjetivo das palavras e desconfie de alternativas que tratam apenas da função informativa, desconectando-se de emoções, imagens e sensações.
Referências: BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa; CUNHA & CINTRA. Nova Gramática do Português Contemporâneo.
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