“um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de
chapéu.”
Nessa frase, são associados dois substantivos semanticamente díspares: “vista” e “chapéu”. A quebra de paralelismo
semântico provoca um curioso efeito de estilo.
Entre as frases, retiradas de outro romance de Machado de
Assis, a que produz efeito de estilo semelhante é:
Leia o texto de Machado de Assis para responder à questão
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo,
encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que
eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-
-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou
recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode
ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém,
que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro
vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e
metesse os versos no bolso.
– Continue, disse eu acordando.
− Já acabei, murmurou ele.
− São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso,
mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte
entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-
-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus
hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal
pegou. Nem por isso me zanguei.
[...]
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no
sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de
homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para
atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não
tiver outro daqui até o fim do livro, vai este mesmo. O meu
poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E
com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a
obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores;
alguns nem tanto.
(Dom Casmurro, 2008.)
Leia o texto de Machado de Assis para responder à questão
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou- -se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
– Continue, disse eu acordando.
− Já acabei, murmurou ele.
− São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso,
mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte
entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-
-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus
hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal
pegou. Nem por isso me zanguei.
[...]
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no
sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de
homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para
atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não
tiver outro daqui até o fim do livro, vai este mesmo. O meu
poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E
com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a
obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores;
alguns nem tanto.
(Dom Casmurro, 2008.)