Leia o trecho da entrevista que a jornalista Betty Milan realizou com a cientista social francesa Juliette Minus,
pesquisadora especialista da condição feminina no mundo muçulmano.
Betty Milan: (no Islã) Em que condições o homem pode repudiar a mulher com que se casou?
Juliette Minus: Em quaisquer condições. Por ser estéril, por não ter filhos homens, por não cozinhar bem, ter mau
humor, enfim, por qualquer coisa. E o homem não tem que prestar contas a ninguém. Basta usar a fórmula do
repúdio, com ou sem testemunha, e o que resta à mulher é ir embora.MILAN, Betty. As mulheres do véu. Folha de São Paulo, 06 jan. 2002, Caderno Mais, p. 14 – 15.
Normalmente, a muçulmana repudiada volta para a casa dos pais ou do irmão mais velho sem ficar
necessariamente estigmatizada socialmente, recuperando inclusive seu dote e podendo se casar novamente
depois de três meses. Porém, fica privada de levar seus filhos. Tal situação se justifica em termos religiosos e
sociais pelo fato de que no Islã
Gabarito comentado
Alternativa correta: D
Tema central: entenda por que a prática do repúdio masculino (talaq) e as consequências sociais descritas no texto decorrem de uma visão do casamento no Islã como contrato e não como sacramento. Saber distinguir instituições religiosas segundo sua natureza (contrato × sacramento) é crucial em questões de História das Religiões e Direito Comparado.
Resumo teórico: no direito islâmico tradicional, o casamento (nikah) é um contrato entre as partes, regulado pela sharia e pela fiqh. Isso implica que direitos, deveres e formas de dissolução têm base jurídico-religiosa, não sacramental — logo, procedimentos como o repúdio do marido têm respaldo jurídico-religioso em várias escolas. Fontes gerais: Alcorão, jurisprudência islâmica (fiqh) e estudos de direito comparado sobre família muçulmana (enciclopédias de estudos islâmicos; manuais de direito da família comparado).
Por que D é correta: afirmar que "o casamento não é considerado um sacramento" explica religiosamente por que o homem pode repudiar a esposa sem que haja mediação sacramental ou impedimento teológico absoluto. Como contrato, admite formas de término previstas na lei religiosa (ex.: talaq), o que justifica socialmente os procedimentos descritos no texto.
Análise das alternativas incorretas
A — "o adultério feminino é punido com a morte.": incorreta. Embora algumas interpretações tradicionais prevejam punições severas para zina, a aplicação varia muito; não é a justificativa apresentada no texto para o repúdio nem explica a recuperação do dote ou a volta à família.
B — "a família da mulher também fica desonrada.": incorreta. O trecho afirma justamente que a mulher não fica necessariamente estigmatizada socialmente; portanto, não é coerente com o enunciado.
C — "o repúdio é uma prática sexista e excludente.": apesar de ser uma leitura crítica plausível, é uma avaliação normativa. A questão pede uma razão religiosa/social que justifique as práticas mencionadas; a natureza contratual do casamento (D) é explicação mais direta.
E — "a separação representa a morte simbólica da mulher.": incorreta. O texto descreve consequências práticas (perda da guarda dos filhos, retorno à família) mas não apresenta a separação como "morte simbólica".
Dica de prova: procure na pergunta a ligação entre causa (prática social/religiosa) e efeito (consequências para a mulher). Prefira alternativas que expliquem estruturalmente o fenômeno (instituições, normas) em vez de juízos de valor ou extremos não mencionados.
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