Questão a6b9e007-12
Prova:USP 2011
Disciplina:História
Assunto:História do Brasil, Processo de Independência: dos movimentos nativistas à libertação de Portugal

Fui à terra fazer compras com Glennie. Há muitas casas inglesas, tais como celeiros e armazéns não diferentes do que chamamos na Inglaterra de armazéns italianos, de secos e molhados, mas, em geral, os ingleses aqui vendem suas mercadorias em grosso a retalhistas nativos ou franceses. (...) As ruas estão, em geral, repletas de mercadorias inglesas. A cada porta as palavras Superfino de Londres saltam aos olhos: algodão estampado, panos largos, louça de barro, mas, acima de tudo, ferragens de Birmingham, podem-se obter um pouco mais caro do que em nossa terra nas lojas do Brasil.
Maria Graham. Diário de uma viagem ao Brasil. São Paulo, Edusp, 1990, p. 230 (publicado originalmente em 1824). Adaptado.

Esse trecho do diário da inglesa Maria Graham refere- se à sua estada no Rio de Janeiro em 1822 e foi escrito em 21 de janeiro deste mesmo ano. Essas anotações mostram alguns efeitos

A
do Ato de Navegação, de 1651, que retirou da Inglaterra o controle militar e comercial dos mares do norte, mas permitiu sua interferência nas colônias ultramarinas do sul.
B
do Tratado de Methuen, de 1703, que estabeleceu a troca regular de produtos portugueses por mercadorias de outros países europeus, que seriam também distribuídas nas colônias.
C
da abertura dos portos do Brasil às nações amigas, decretada por D. João em 1808, após a chegada da família real portuguesa à América.
D
do Tratado de Comércio e Navegação, de 1810, que deu início à exportação de produtos do Brasil para a Inglaterra e eliminou a concorrência hispano- americana.
E
da ação expansionista inglesa sobre a América do Sul, gradualmente anexada ao Império Britânico, após sua vitória sobre as tropas napoleônicas, em 1815.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa C

Tema central: a abertura dos portos do Brasil em 1808 e suas consequências econômicas: entrada massiva de produtos ingleses e transformação das relações comerciais entre a metrópole e a colônia.

Resumo teórico — Em 1808, com a chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro, D. João decretou o chamado Alvará de 28 de janeiro de 1808 (Abertura dos Portos às Nações Amigas), permitindo o comércio direto com outras nações — sobretudo a Inglaterra. Resultado: incremento das importações britânicas, surgimento de lojas e armazéns ingleses no Rio e desarticulação do exclusivo colonial que privilegiava apenas a metrópole.

Fontes relevantes: Alvará de 28/01/1808 (Abertura dos Portos às Nações Amigas); Tratado de Comércio e Navegação entre Portugal e Inglaterra, 1810 (ratificou privilégios britânicos).

Por que a alternativa C está correta: o trecho do diário de Maria Graham (janeiro de 1822) descreve ruas cheias de mercadorias inglesas e estabelecimentos britânicos vendendo “a grosso” e a retalho — efeito direto e imediato da abertura dos portos de 1808, que permitiu importações inglesas em larga escala para o Brasil.

Análise das alternativas incorretas:

A — A Lei de Navegação (Navigation Acts, 1651) refere-se ao domínio marítimo inglês e regras para comércio com colônias britânicas no Atlântico Norte; não explica o fluxo de mercadorias inglesas no Rio em 1822.

B — O Tratado de Methuen (1703) era um acordo entre Inglaterra e Portugal sobre vinho e tecidos, importante diplomaticamente, mas não instituiu a distribuição ampla de produtos europeus nas colônias nem explica o surto comercial pós-1808.

D — O Tratado de Comércio e Navegação de 1810 consolidou privilégios britânicos (p.ex. tarifas favoráveis), mas é consequência e complemento da abertura de 1808; a origem imediata do quadro descrito é o alvará de 1808, não o tratado de 1810.

E — A ideia de anexação progressiva da América do Sul ao Império Britânico após 1815 é incorreta: a presença inglesa foi econômica e comercial, não uma anexação territorial generalizada.

Dica de prova: procure pela ação imediata indicada no enunciado (descrições de comércio em 1822) — isso costuma apontar para medidas de curto prazo (a abertura de 1808), não para tratados ou atos de séculos anteriores ou hipóteses expansionistas.

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