Questão a624ab40-d4
Prova:
Disciplina:
Assunto:
O Texto 3, visto ainda globalmente, constitui uma
defesa:
O Texto 3, visto ainda globalmente, constitui uma
defesa:
TEXTO 3
O canteiro de palavras
Qual é o seu ofício – me pergunta com certa formalidade o
simpático velhinho da fila do banco, depois do cumprimento
habitual e do comentário sobre o tempo, rotinas que servem
para quebrar o gelo (no nosso clima, literalmente) entre
desconhecidos circunstancialmente íntimos pela espera
compartilhada. Quase digo que sou jornalista, mas me
policio porque conheço o poder inibidor da minha profissão.
– Vivo de escrever. – Respondo no mesmo tom evasivo,
tentando decifrar o efeito da resposta no seu olhar
enrugado. (...)
– Eu sou cortador de pedras – me diz com indisfarçável
orgulho de quem detém um dote raro.
Antes que a fila ande, tenho tempo ainda para ouvir
algumas explicações sobre a arte de tirar paralelepípedos
da rocha bruta, sobre as ferramentas que usa e sobre a
quantidade de peças que produz. Ouço em silêncio para
não perturbar a narrativa, mas seu trabalho não me é
estranho. Perto de minha casa há uma pedreira. Conheço a
faina dos homens empoeirados que lá labutam. De vez em
quando fico ouvindo a distância o martelar dos canteiros e
pensando na célebre fábula sobre “a tenacidade de nossas
ações”, escrita por Jacob Riis, que tem como personagem
exatamente um cortador de pedras. Diz mais ou menos o
seguinte: “Quando nada parece dar certo, eu observo o
homem que corta pedras. Ele martela uma, duas, centenas
de vezes, sem que uma só rachadura apareça. Porém, na
centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas. E
eu sei que não foi aquela pancada que operou o milagre,
mas todas as que vieram antes”.
Pois escrever, me dou conta enquanto preencho o cheque,
não deixa de ser um processo semelhante. A gente martela
centenas de vezes até que brote do cérebro (ou do
dicionário) a palavra adequada, talvez a única capaz de
servir à construção literária planejada. Nem sempre se
consegue. A não ser que o canteiro de letras tenha o
talento daquele escultor de estátuas equestres que
explicava com simplicidade como conseguia tal perfeição:
– Eu tiro da pedra tudo o que não seja cavalo.
(Nilson de Souza. Zero Hora. 17/7/1996).
TEXTO 3
Qual é o seu ofício – me pergunta com certa formalidade o simpático velhinho da fila do banco, depois do cumprimento habitual e do comentário sobre o tempo, rotinas que servem para quebrar o gelo (no nosso clima, literalmente) entre desconhecidos circunstancialmente íntimos pela espera compartilhada. Quase digo que sou jornalista, mas me policio porque conheço o poder inibidor da minha profissão.
– Vivo de escrever. – Respondo no mesmo tom evasivo, tentando decifrar o efeito da resposta no seu olhar enrugado. (...)
– Eu sou cortador de pedras – me diz com indisfarçável orgulho de quem detém um dote raro.
Antes que a fila ande, tenho tempo ainda para ouvir algumas explicações sobre a arte de tirar paralelepípedos da rocha bruta, sobre as ferramentas que usa e sobre a quantidade de peças que produz. Ouço em silêncio para não perturbar a narrativa, mas seu trabalho não me é estranho. Perto de minha casa há uma pedreira. Conheço a faina dos homens empoeirados que lá labutam. De vez em quando fico ouvindo a distância o martelar dos canteiros e pensando na célebre fábula sobre “a tenacidade de nossas ações”, escrita por Jacob Riis, que tem como personagem exatamente um cortador de pedras. Diz mais ou menos o seguinte: “Quando nada parece dar certo, eu observo o homem que corta pedras. Ele martela uma, duas, centenas de vezes, sem que uma só rachadura apareça. Porém, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas. E eu sei que não foi aquela pancada que operou o milagre, mas todas as que vieram antes”.
Pois escrever, me dou conta enquanto preencho o cheque, não deixa de ser um processo semelhante. A gente martela centenas de vezes até que brote do cérebro (ou do dicionário) a palavra adequada, talvez a única capaz de servir à construção literária planejada. Nem sempre se consegue. A não ser que o canteiro de letras tenha o talento daquele escultor de estátuas equestres que explicava com simplicidade como conseguia tal perfeição:
– Eu tiro da pedra tudo o que não seja cavalo.
O canteiro de palavras
Qual é o seu ofício – me pergunta com certa formalidade o simpático velhinho da fila do banco, depois do cumprimento habitual e do comentário sobre o tempo, rotinas que servem para quebrar o gelo (no nosso clima, literalmente) entre desconhecidos circunstancialmente íntimos pela espera compartilhada. Quase digo que sou jornalista, mas me policio porque conheço o poder inibidor da minha profissão.
– Vivo de escrever. – Respondo no mesmo tom evasivo, tentando decifrar o efeito da resposta no seu olhar enrugado. (...)
– Eu sou cortador de pedras – me diz com indisfarçável orgulho de quem detém um dote raro.
Antes que a fila ande, tenho tempo ainda para ouvir algumas explicações sobre a arte de tirar paralelepípedos da rocha bruta, sobre as ferramentas que usa e sobre a quantidade de peças que produz. Ouço em silêncio para não perturbar a narrativa, mas seu trabalho não me é estranho. Perto de minha casa há uma pedreira. Conheço a faina dos homens empoeirados que lá labutam. De vez em quando fico ouvindo a distância o martelar dos canteiros e pensando na célebre fábula sobre “a tenacidade de nossas ações”, escrita por Jacob Riis, que tem como personagem exatamente um cortador de pedras. Diz mais ou menos o seguinte: “Quando nada parece dar certo, eu observo o homem que corta pedras. Ele martela uma, duas, centenas de vezes, sem que uma só rachadura apareça. Porém, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas. E eu sei que não foi aquela pancada que operou o milagre, mas todas as que vieram antes”.
Pois escrever, me dou conta enquanto preencho o cheque, não deixa de ser um processo semelhante. A gente martela centenas de vezes até que brote do cérebro (ou do dicionário) a palavra adequada, talvez a única capaz de servir à construção literária planejada. Nem sempre se consegue. A não ser que o canteiro de letras tenha o talento daquele escultor de estátuas equestres que explicava com simplicidade como conseguia tal perfeição:
– Eu tiro da pedra tudo o que não seja cavalo.
(Nilson de Souza. Zero Hora. 17/7/1996).
A
da virtude da tenacidade.
B
da ética profissional.
C
das habilidades naturais.
D
da escolarização adequada.
E
da boa construção literária.