No entender da autora do artigo, no âmbito psiquiátrico, a distinção entre comportamentos normais e anormais
A poderosa American Psychiatric Association (Associação Americana de Psiquiatria – APA) lançou neste final de semana a nova edição do que é conhecido como a “Bíblia da Psiquiatria”: o DSM-5. E, de imediato, virei doente mental. Não estou sozinha. Está cada vez mais difícil não se encaixar em uma ou várias doenças do manual. Se uma pesquisa já mostrou que quase metade dos adultos americanos teve pelo menos um transtorno psiquiátrico durante a vida, alguns críticos renomados desta quinta edição do manual têm afirmado que agora o número de pessoas com doenças mentais vai se multiplicar. E assim poderemos chegar a um impasse muito, mas muito fascinante, mas também muito perigoso: a psiquiatria conseguiria a façanha de transformar a “normalidade” em “anormalidade”. O “normal” seria ser “anormal”. Dá-se assim a um grupo de psiquiatras o poder – incomensurável – de definir o que é ser “normal”. E assim interferir direta e indiretamente na vida de todos, assim como nas políticas governamentais de saúde pública, com consequências e implicações que ainda precisam ser muito melhor analisadas e compreendidas. Sem esquecer, em nenhum momento sequer, que a definição das doenças mentais está intrinsecamente ligada a uma das indústrias mais lucrativas do mundo atual.
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Tema central: a questão aborda a medicalização e a autoridade classificatória da psiquiatria: quem define o que é “normal” e até que ponto essa definição é neutra ou marcada por interesses científicos, sociais e econômicos.
Resumo teórico (sucinto): o DSM-5 (APA, 2013) é um manual classificatório que organiza transtornos mentais. Críticas recorrentes (p.ex. Allen Frances) apontam para expansão de categorias, risco de patologização do comportamento humano e influência da indústria farmacêutica. Teorias sociais (construtivismo, estudos sobre medicalização) mostram que critérios de normalidade são historicamente e socialmente condicionados, não apenas resultados de evidência puramente universal.
Justificativa da alternativa B: no texto a autora denuncia que um grupo de psiquiatras teria poder “incomensurável” para definir a normalidade, transformando o “normal” em “anormal” e afetando políticas públicas e interesses econômicos. Isso expressa uma crítica ao que se poderia chamar de poder absoluto da ciência na determinação dos critérios, em detrimento de uma relativização que considere fatores históricos, sociais e econômicos — exatamente o que a alternativa B afirma.
Análise das alternativas incorretas:
- A: diz independência frente a condicionamentos materiais, históricos ou sociais. Contrapõe-se ao texto, que sugere precisamente influência social e econômica; portanto está errada.
- C: afirma autoridade baseada em critérios empíricos e universais. O texto questiona essa pretensa neutralidade e universalidade, apontando interesses e contingências; logo, incorreta.
- D: fala em valorização da autonomia individual. O foco do texto é o poder de definir normas e possíveis imposições coletivas, não a autonomia; erro de interpretação.
- E: propõe que a psiquiatria estabelece normas essenciais para o progresso da espécie. O texto não tem tom teleológico/positivista, mas de alerta crítico — assim, também incorreta.
Estratégia para provas: procure palavras-chave do enunciado (p.ex. “poder incomensurável”, “indústria”, “definir o que é ser ‘normal’”) que revelem crítica à neutralidade científica. Elimine alternativas que afirmem independência, neutralidade empírica ou teleologia positiva — são contrárias ao tom crítico do texto.
Fontes úteis: APA – DSM‑5 (2013); críticas públicas de Allen Frances; literatura sobre medicalização e Foucault (para perspectiva histórica e de poder).
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






