Eixo temático: Além da fé, o pão: permanências,
continuidades e o projeto de felicidade na Modernidade
“Os mitos dos soberanos da Idade Média e do Renascimento
fundavam-se consideravelmente numa visão de mundo ou
mentalidade tradicional. Se um soberano desta época era
representado como (digamos) Hércules, isso era muito mais
que uma metáfora para dizer que ele era forte, ou mesmo que
resolveria os problemas de seu reino com a mesma facilidade
com que Hércules realizara seus vários trabalhos”
(Peter Burke – A fabricação do Rei: a construção da Imagem pública de Luís XIV; RJ; Jorge
Zahar Editor; 1994 – p.139).
Com base no fragmento textual acima é correto afirmar que,
durante o Antigo Regime, os soberanos:
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa B
Tema central: imagem e legitimidade do poder monárquico no Antigo Regime. O enunciado trata da construção simbólica do soberano (mitos, metáforas heroicas) como elemento de legitimação política e social — característica do absolutismo e das monarquias pré‑modernas.
Resumo teórico breve: Na Idade Média e no Renascimento os reis eram frequentemente representados por figuras míticas (ex.: Hércules) ou sacralizados pela Igreja. Essas imagens não eram meras comparações literárias, mas instrumentos de poder: conferiam ao soberano uma autoridade quase sagrada e uma aura de inviolabilidade. A ideia de lesa‑majestade (crimes contra a majestade do rei) institucionaliza legalmente essa inviolabilidade — críticas ou ações contrárias eram tratadas como ataque ao próprio corpo político do Estado. (Ver: Peter Burke, A fabricação do Rei.)
Justificativa da alternativa B: O texto afirma que as representações míticas não são só metáforas, mas sustentam uma mentalidade tradicional que eleva o soberano. Isso corresponde à noção de que o monarca não podia ser contrariado impunemente; atentados ou afrontas eram enquadrados como lesa‑majestade, crime que protege a autoridade régia. Logo, B é coerente com a ideia de inviolabilidade e sacralização do poder.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta. O texto fala justamente do oposto: o soberano não era pensado como um ser humano comum; era elevado por mitos e símbolos para além da mera humanidade.
C — Parcialmente enganosa. A Igreja participava da sacralização, mas a alternativa afirma que a Igreja o representava como indispensável e com proeminência sobre assuntos eclesiásticos — isso generaliza e confunde: em muitos casos a Igreja e o rei disputavam influência (ex.: conflitos Igreja‑Estado). Não é leitura direta do fragmento.
D — Errada. Se fosse considerado um “igual”, não haveria a necessidade de mitos e leis de proteção à majestade; a relação súdito‑soberano era hierárquica e marcada por deferência, não fraternidade.
E — Fracamente baseada. A ideia de representantes do povo com acesso ilimitado é anacrônica para o Antigo Regime: instituições representativas com liberdade de crítica só se desenvolvem mais tarde (séculos XVIII–XIX).
Dica de interpretação: Procure palavras‑chave do enunciado — aqui, “mitos”, “visão de mundo”, “representado como Hércules” — que apontam para sacralização e construção ideológica do poder. Desconfie de alternativas que introduzam conceitos anacrônicos (liberdade representativa plena) ou que invertam a relação de poder (igualdade fraterna).
Referência principal: Peter Burke, A fabricação do Rei (1994).
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