O texto I diz respeito a um momento pungente da
narrativa de Meia Pata, de Ricardo Dantas, e que é
fundamental para o desenrolar da obra. Trata-se de
quando:
TEXTO I
"Após encontrar um abrigo seguro sob uma copa de maçaranduba caída, ainda ofegante, e com dores fortes em sua pata esquerda e coxa direita, começou a averiguar o que aquele estrondo havia lhe causado. A pata estava completamente dilacerada, com sangramento. As duas garras da região esquerda tinham sido arrancadas. Observou a mutilação. Em sua memória automática, associava o ferimento ao barulho alto e aterrorizante.
Pelo instinto, a onça vislumbrou que, geralmente antes e durante as chuvas torrenciais, estrondos ecoavam pela floresta. Não eram parecidos com os dois que acabara de ouvir, mas às vezes, quando acontecia, isso a assustava como se a floresta estivesse sendo engolida por um animal maior e mais forte. Olhou novamente para a pata, e diante de sua imponência, iniciou uma tentativa de escoamento do sangramento com sua língua, o que logo pressentiu ser inútil.
Ao passar do tempo, a coxa direita latejava cada vez mais. Tentou levantar da toca provisória com o intuito de chegar até sua caverna próxima à cachoeira. Constatou ser impossível conseguir se apoiar sem firmar o corpo com as regiões atingidas. O sangramento da pata diminuiu de intensidade. Iniciou sua peregrinação arrastando-se pela floresta. Sentiu a pele de seu peito sendo esfolada pelas folhas, galhos e ouriços de castanha da Amazônia.
Um rastro de sangue era visível ao longo da tentativa exaustiva de chegar à sua toca. Ao se deparar com um igarapé, vacilou várias vezes até entrar n‘água. Mas não tinha alternativa. Na situação em que se encontrava, não teria como se equilibrar nos troncos das árvores caídas que serviam de ponte e eram facilmente transpassados.
Entrando no igarapé, a onça sentiu um alívio em sua pata flagelada. De súbito, deitou-se na água e aliviou a coxa atingida pelo impacto desconhecido. Aproveitou e tomou longos goles do líquido. O ferimento na coxa não sangrava mais como antes, porém, a pata dianteira manchava o igarapé atraindo pequenos peixes que mordiscavam seu pelo e a carne dilacerada do ferimento. No movimento de afastar os peixes, enterrou a pata na lama do fundo do igarapé e o sangue parou de manchar a água. Logo a onça afundou mais a pata, e aos poucos a dor foi diminuindo."
DANTAS, Ricardo. Meia Pata. São Paulo: Kazuá, 2013. p. 20-21
TEXTO I
"Após encontrar um abrigo seguro sob uma copa de maçaranduba caída, ainda ofegante, e com dores fortes em sua pata esquerda e coxa direita, começou a averiguar o que aquele estrondo havia lhe causado. A pata estava completamente dilacerada, com sangramento. As duas garras da região esquerda tinham sido arrancadas. Observou a mutilação. Em sua memória automática, associava o ferimento ao barulho alto e aterrorizante.
Pelo instinto, a onça vislumbrou que, geralmente antes e durante as chuvas torrenciais, estrondos ecoavam pela floresta. Não eram parecidos com os dois que acabara de ouvir, mas às vezes, quando acontecia, isso a assustava como se a floresta estivesse sendo engolida por um animal maior e mais forte. Olhou novamente para a pata, e diante de sua imponência, iniciou uma tentativa de escoamento do sangramento com sua língua, o que logo pressentiu ser inútil.
Ao passar do tempo, a coxa direita latejava cada vez mais. Tentou levantar da toca provisória com o intuito de chegar até sua caverna próxima à cachoeira. Constatou ser impossível conseguir se apoiar sem firmar o corpo com as regiões atingidas. O sangramento da pata diminuiu de intensidade. Iniciou sua peregrinação arrastando-se pela floresta. Sentiu a pele de seu peito sendo esfolada pelas folhas, galhos e ouriços de castanha da Amazônia.
Um rastro de sangue era visível ao longo da tentativa exaustiva de chegar à sua toca. Ao se deparar com um igarapé, vacilou várias vezes até entrar n‘água. Mas não tinha alternativa. Na situação em que se encontrava, não teria como se equilibrar nos troncos das árvores caídas que serviam de ponte e eram facilmente transpassados.
Entrando no igarapé, a onça sentiu um alívio em sua pata flagelada. De súbito, deitou-se na água e aliviou a coxa atingida pelo impacto desconhecido. Aproveitou e tomou longos goles do líquido. O ferimento na coxa não sangrava mais como antes, porém, a pata dianteira manchava o igarapé atraindo pequenos peixes que mordiscavam seu pelo e a carne dilacerada do ferimento. No movimento de afastar os peixes, enterrou a pata na lama do fundo do igarapé e o sangue parou de manchar a água. Logo a onça afundou mais a pata, e aos poucos a dor foi diminuindo."
DANTAS, Ricardo. Meia Pata. São Paulo: Kazuá, 2013. p. 20-21
Gabarito comentado
Gabarito comentado – Interpretação de Texto (Questão: Meia Pata)
Tema central: Interpretação de texto, com foco na compreensão de informações explícitas e implícitas dentro de uma narrativa descritiva. O candidato deve reconhecer elementos centrais da trama e associá-los ao enunciado corretamente, conforme a norma-padrão da Língua Portuguesa.
Justificativa da alternativa correta – C:
A alternativa C (“a onça sofre a mutilação que acaba se tornando seu nome”) está em plena consonância com o texto apresentado. O trecho menciona de modo detalhado o acidente com a pata da onça, que fica “completamente dilacerada”, resultando na perda de garras e sangramento intenso. Essa mutilação justifica, pelo contexto e pelo título da obra (Meia Pata), a escolha de seu nome. Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, interpretar textos implica perceber elementos explícitos e relações implícitas entre fatos e títulos, mantendo a coerência textual.
Análise das alternativas incorretas:
- A: Cita um personagem chamado Daniel e um ataque da onça a esse homem, mas o texto não menciona nenhum humano nem tal confronto. Erro de coerência com a narrativa.
- B: Também aborda Daniel sendo ferido, elemento não presente no texto. Novamente, informação extra-textual e inválida.
- D: Aponta que a onça foi capturada após ser alvejada por arma de fogo; não há qualquer indicação disso na narrativa apresentada.
- E: A menção a tiros disparados por Daniel é completamente inexistente no texto; trata-se de invenção e deve ser descartada por falta de embasamento textual.
Estratégias para interpretação assertiva:
Busque palavras-chave e relações entre fatos descritos e títulos de obras. Rejeite alternativas que incluam personagens, ações ou consequências não mencionados no texto (pegadinhas comuns). Segundo Bechara, o leitor eficiente deve focar no sentido global e evitar conclusões baseadas em suposições externas.
Resumo: A alternativa C é correta porque corresponde com perfeição aos fatos narrados; as demais apresentam informações destoantes ou inventadas.
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