De acordo com a historiadora,
Leia o trecho do livro
Abolição, da historiadora brasileira Emília Viotti da Costa.
Durante três séculos (do século XVI ao XVIII) a escravidão
foi praticada e aceita sem que as classes dominantes
questionassem a legitimidade do cativeiro. Muitos chegavam
a justificar a escravidão, argumentando que graças a ela os
negros eram retirados da ignorância em que viviam e convertidos
ao cristianismo. A conversão libertava os negros do
pecado e lhes abria a porta da salvação eterna. Dessa forma,
a escravidão podia até ser considerada um benefício para o
negro! Para nós, esses argumentos podem parecer cínicos,
mas, naquela época, tinham poder de persuasão. A ordem
social era considerada expressão dos desígnios da Providência
Divina e, portanto, não era questionada. Acreditava-se
que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres,
outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros,
escravos. De acordo com essa teoria, não cabia aos homens
modificar a ordem social. Assim, justificada pela religião e
sancionada pela Igreja e pelo Estado – representantes de
Deus na Terra –, a escravidão não era questionada. A Igreja
limitava-se a recomendar paciência aos escravos e benevolência
aos senhores.
Não é difícil imaginar os efeitos dessas ideias. Elas permitiam
às classes dominantes escravizar os negros sem problemas
de consciência. Os poucos indivíduos que no Período
Colonial, fugindo à regra, questionaram o tráfico de escravos
e lançaram dúvidas sobre a legitimidade da escravidão, foram
expulsos da Colônia e o tráfico de escravos continuou
sem impedimentos. Apenas os próprios escravos questionavam
a legitimidade da instituição, manifestando seu protesto
por meio de fugas e insurreições. Encontravam, no entanto,
pouca simpatia por parte dos homens livres e enfrentavam
violenta repressão.
(A abolição, 2010.)
Leia o trecho do livro Abolição, da historiadora brasileira Emília Viotti da Costa.
Durante três séculos (do século XVI ao XVIII) a escravidão foi praticada e aceita sem que as classes dominantes questionassem a legitimidade do cativeiro. Muitos chegavam a justificar a escravidão, argumentando que graças a ela os negros eram retirados da ignorância em que viviam e convertidos ao cristianismo. A conversão libertava os negros do pecado e lhes abria a porta da salvação eterna. Dessa forma, a escravidão podia até ser considerada um benefício para o negro! Para nós, esses argumentos podem parecer cínicos, mas, naquela época, tinham poder de persuasão. A ordem social era considerada expressão dos desígnios da Providência Divina e, portanto, não era questionada. Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos. De acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social. Assim, justificada pela religião e sancionada pela Igreja e pelo Estado – representantes de Deus na Terra –, a escravidão não era questionada. A Igreja limitava-se a recomendar paciência aos escravos e benevolência aos senhores.
Não é difícil imaginar os efeitos dessas ideias. Elas permitiam às classes dominantes escravizar os negros sem problemas de consciência. Os poucos indivíduos que no Período Colonial, fugindo à regra, questionaram o tráfico de escravos e lançaram dúvidas sobre a legitimidade da escravidão, foram expulsos da Colônia e o tráfico de escravos continuou sem impedimentos. Apenas os próprios escravos questionavam a legitimidade da instituição, manifestando seu protesto por meio de fugas e insurreições. Encontravam, no entanto, pouca simpatia por parte dos homens livres e enfrentavam violenta repressão.
(A abolição, 2010.)
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto. A questão exige identificar, a partir da leitura cuidadosa, qual alternativa traduz corretamente o ponto de vista apresentado no trecho. Trata-se de compreender a relação entre argumentos justificados pelas classes dominantes e a legitimação da escravidão com base religiosa. Esse tipo de questão avalia sua habilidade de ler além do literal, percebendo como a autora articula a defesa ideológica da escravidão no período colonial.
Justificativa da alternativa correta (A):
A alternativa A — "as classes dominantes valiam-se de argumentos religiosos para legitimar a escravidão" — está em conformidade com o texto, que afirma explicitamente que a religião e a providência divina eram usados para sancionar e justificar a dominação. Trechos como "a ordem social era considerada expressão dos desígnios da Providência Divina" e "justificada pela religião e sancionada pela Igreja e pelo Estado" comprovam isso. Strategicamente, foque sempre nas palavras-chave que explicitam os motivos e a fundamentação das ideias no texto.
Análise crítica das alternativas incorretas:
B) Falha, pois o texto menciona que "apenas os próprios escravos questionavam a legitimidade da instituição", mostrando que os negros tinham sim consciência da opressão e se rebelavam por meio de fugas e insurreições.
C) Está equivocada. A Igreja, conforme o texto, não assumia postura corajosa, mas sim recomendava paciência aos escravos e benevolência aos senhores — uma posição de acomodação e não de defesa ativa.
D) Incorreta. O texto aponta, pelo contrário, que as ideias das classes dominantes refletiam e reforçavam a ideologia vigente: a ordem social era entendida como vontade divina, e não havia oposição formal a essa visão.
E) Errada. O texto especifica que os expulsos eram "poucos indivíduos que... questionaram o tráfico", ou seja, críticos livres, não necessariamente negros. Os escravos enfrentavam repressão dentro da colônia, mas não eram eles os expulsos.
Dica de prova: Fique atento a generalizações impróprias (como “os negros não ousavam sequer questionar...”) e a atribuições de ações a grupos errados, pois são pegadinhas frequentes em provas!
Conclusão: O domínio das estratégias de leitura, a identificação de expressões sinalizadoras de causa e justificativa, e o confronto objetivo com o texto são fundamentos que garantem a resolução correta de questões como esta. Considere sempre se a alternativa faz sentido no contexto apresentado e se não distorce nenhuma informação original.
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