Questão 9b9d5d90-dd
Prova:UNIFESP 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O trecho narra

Os sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), em que se narram eventos referentes a uma das expedições militares enviadas pelo governo federal para combater Antônio Conselheiro e seus seguidores sediados em Canudos.
   
      Oitocentos homens desapareciam em fuga, abandonando as espingardas; arriando as padiolas, em que se estorciam feridos; jogando fora as peças de equipamento; desarmando- -se; desapertando os cinturões, para a carreira desafogada; e correndo, correndo ao acaso, correndo em grupos, em bandos erradios, correndo pelas estradas e pelas trilhas que as recortam, correndo para o recesso das caatingas, tontos, apavorados, sem chefes...
   Entre os fardos atirados à beira do caminho ficara, logo ao desencadear-se o pânico – tristíssimo pormenor! – o cadáver do comandante. Não o defenderam. Não houve um breve simulacro de repulsa contra o inimigo, que não viam e adivinhavam no estrídulo dos gritos desafiadores e nos estampidos de um tiroteio irregular e escasso, como o de uma caçada. Aos primeiros tiros os batalhões diluíram-se.
      Apenas a artilharia, na extrema retaguarda, seguia vagarosa e unida, solene quase, na marcha habitual de uma revista, em que parava de quando em quando para varrer a disparos as macegas traiçoeiras; e prosseguindo depois, lentamente, rodando, inabordável, terrível...
       [...]
        Um a um tombavam os soldados da guarnição estoica. 
Feridos ou espantados os muares da tração empacavam; torciam de rumo; impossibilitavam a marcha.
      A bateria afinal parou. Os canhões, emperrados, imobilizaram-se numa volta do caminho...
     O coronel Tamarindo, que volvera à retaguarda, agitando-se destemeroso e infatigável entre os fugitivos, penitenciando-se heroicamente, na hora da catástrofe, da tibieza anterior, ao deparar com aquele quadro estupendo, procurou debalde socorrer os únicos soldados que tinham ido a Canudos. Neste pressuposto ordenou toques repetidos de “meia-volta, alto!”. As notas das cornetas, convulsivas, emitidas pelos corneteiros sem fôlego, vibraram inutilmente. Ou melhor – aceleraram a fuga. Naquela desordem só havia uma determinação possível: “debandar!”.
    Debalde alguns oficiais, indignados, engatilhavam revólveres ao peito dos foragidos. Não havia contê-los. Passavam; corriam; corriam doudamente; corriam dos oficiais; corriam dos jagunços; e ao verem aqueles, que eram de preferência alvejados pelos últimos, caírem malferidos, não se comoviam. O capitão Vilarim batera-se valentemente quase só e ao baquear, morto, não encontrou entre os que comandava um braço que o sustivesse. Os próprios feridos e enfermos estropiados lá se iam, cambeteando, arrastando-se penosamente, imprecando os companheiros mais ágeis...
    As notas das cornetas vibravam em cima desse tumulto, imperceptíveis, inúteis...
    Por fim cessaram. Não tinham a quem chamar. A infantaria desaparecera...

(Os sertões, 2016.)

A
a debandada trágica dos seguidores de Antônio Conselheiro.
B
a completa aniquilação do povoado de Canudos.
C
o desfecho desastroso da expedição militar.
D
o desmantelamento dos dois grupos de combatentes.
E
a resistência heroica dos soldados do governo.

Gabarito comentado

B
Bruno MendesMonitor do Qconcursos

Tema central da questão: Interpretação de texto. Aqui, exige-se a identificação do evento principal narrado, com atenção à coesão (os conectivos e ligações entre partes) e à coerência textual (a lógica dos fatos).

Análise da alternativa correta – C) “o desfecho desastroso da expedição militar.”

Pela norma-padrão e segundo gramáticas de referência (Bechara; Cunha & Cintra), interpretar um texto pressupõe identificar sua ideia principal. Aqui, percebe-se a derrota completa das tropas do governo na Guerra de Canudos: a fuga dos soldados, a perda de comando, a inutilidade dos apelos dos oficiais e a desordem geral mostram o fracasso da expedição militar. Expressões como “ninguém os conteve”, “correndo doudamente” e “não tinham a quem chamar” confirmam esse desfecho. O foco, portanto, não está em Canudos ou nos jagunços, mas na desagregação do exército oficial.

Por que as alternativas estão incorretas?

A) "A debandada trágica dos seguidores de Antônio Conselheiro": Errado. O texto refere-se exclusivamente à debandada dos soldados do governo, não dos seguidores de Conselheiro.

B) "A completa aniquilação do povoado de Canudos": Errado. Não há menção à destruição do povoado, apenas à fuga e derrota militar.

D) "O desmantelamento dos dois grupos de combatentes": Errado. O texto não aborda dois grupos sendo derrotados; só aparece a dispersão da tropa do governo.

E) "A resistência heroica dos soldados do governo": Errado. Ao contrário, há destaque para a fuga e para a ausência de bravura coletiva. Somente citações pontuais de esforço individual, que não caracterizam a tônica de “resistência heroica”.

Estratégias de leitura: atenção ao foco narrativo (“oitocentos homens desapareciam...”, “a infantaria desaparecera...”), evitando confundir o sujeito (quem está fugindo). Cuidado com alternativas que sugerem ações de outros grupos.

Síntese: questões como essa exigem ler além do literal, observando efeitos de contexto e progressão de ideias, conforme ensinam grandes gramáticos. Domine a identificação do eixo temático do trecho para acertar.

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