O pronome “Ela”, que se repete no início de três estrofes,
refere-se a
Aquela triste e leda madrugada, cheia toda de mágoa e de piedade,enquanto houver no mundo saudade quero que seja sempre celebrada.Ela só, quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade, viu apartar-se de uma outra vontade, que nunca poderá ver-se apartada.Ela só viu as lágrimas em fio que, de uns e de outros olhos derivadas, se acrescentaram em grande e largo rio.Ela viu as palavras magoadas que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso às almas condenadas. (Sonetos, 2001.)
(Sonetos, 2001.)
Gabarito comentado
Comentário da questão – Interpretação de texto, referência pronominal e personificação
Tema central: Trata-se de uma questão de interpretação textual, com foco na referência pronominal (uso de pronomes para retomar termos do texto e garantir coesão) e na figura de linguagem da personificação (quando o autor atribui comportamentos humanos a elementos não humanos, como a madrugada).
Justificativa para a alternativa correta (E – madrugada):
O pronome pessoal “Ela”, conforme a norma-padrão e as gramáticas clássicas (como Bechara e Cunha & Cintra), sempre retoma o termo feminino singular de maior destaque citado anteriormente. No poema, a primeira estrofe apresenta “aquela triste e leda madrugada”, e, logo depois, as ações descritas ("viu apartar-se", "viu as lágrimas") só fazem sentido se atribuídas à madrugada. Ou seja, há uma clara personificação: a madrugada é transformada em “testemunha” sensível dos acontecimentos tristes do texto.
Portanto, segundo a regra: O pronome pessoal ‘ela’ deve concordar e retomar diretamente o substantivo feminino singular já citado, conferindo coesão textual (Bechara, Moderna Gramática Portuguesa).
Análise das alternativas erradas:
- A) “piedade” – Não apresenta papel de sujeito das ações descritas pelo pronome; apenas caracteriza a madrugada.
- B) “mágoa” – Situação similar: é uma qualidade, não o agente das ações.
- C) “saudade” – Palavra importante, porém, abstrata demais no contexto (“houver saudade” remete ao tempo, não ao agente das ações).
- D) “claridade” – Não apresenta relação direta com os verbos “viu”, “celebrada”, sendo antes um efeito da madrugada.
Estratégia de resolução: Sempre que aparecer um pronome pessoal retomando um termo, procure o substantivo mais proeminente e próximo – geralmente apresentado na frase ou estrofe anterior. Em textos literários, atenção às figuras de linguagem: a personificação é comum e pode indicar o termo de referência.
Resumo: “Ela” retoma “madrugada”, conforme exigem a coesão textual e a concordância pronominal feminina singular (Cunha & Cintra). As demais palavras são apenas complementos ou abstrações, não agentes das ações.
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