Considere o seguinte excerto a respeito da
desumanização dos imigrantes latinos:
“Estou estarrecido pelo que vejo acontecer
hoje nos EUA – filhos de imigrantes, sendo
arrancados de seus pais e enviados a centros de
detenção. Laura Ingraham, da rede de notícias Fox
News disse que as crianças imigrantes presas
estavam ‘praticamente numa colônia de férias’, a
despeito do áudio em que se ouvem crianças
chorando. Quase 60% dos republicanos aprovam a
prática de separar crianças imigrantes de seus pais
e não é difícil entender os motivos. Há alguns anos
Donald Trump vem aproveitando todas as
oportunidades de desumanizar os latinos que
atravessam a fronteira, chamando-os de animais,
assassinos e estupradores. Essa etapa é essencial,
a de reduzir imigrantes a um status sub-humano.
Aconteceu durante o Holocausto. Sempre que um
grupo de pessoas sofre opressão e horrores, os
grupos no poder, primeiramente as reduzem e
desumanizam, de forma a aliviar a consciência dos
poderosos enquanto dure a opressão”.
King, Shaun. Separar famílias de migrantes é uma
barbaridade. E os EUA fazem isso há séculos com não
brancos. Publicado em 21/06/2018. Disponível em:
https://theintercept.com/2018/06/21/eua-familiasmigrantes-trump/. Adaptado.
No texto acima, a referência ao processo de
desumanização dos imigrantes latinos corresponde a
uma ação política baseada em uma concepção de
poder que é encontrada
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Tema central: trata-se da desumanização como prática política — isto é, de como discursos e instituições constroem imagens negativas de grupos (imigrantes) para legitimar políticas de exclusão. É um problema de poder discursivo e governamentalidade, não apenas de conflito econômico ou contrato social.
Resumo teórico progressivo: Michel Foucault concebe o poder como difuso, presente em múltiplas instituições (meios de comunicação, escolas, hospitais, prisões) e atuante por meio de discursos que classificam, normalizam e estigmatizam. Conceitos-chave: poder-saber, disciplinamento e biopoder/governmentality (Vigiar e Punir; História da Sexualidade). Isso explica como redenominações (chamar pessoas de “animais”) facilitam práticas políticas de exclusão (separar famílias).
Justificativa da alternativa B: o excerto enfatiza a produção de narrativas públicas e institucionais que ressignificam percepções sociais e reduzem um grupo a “sub-humano”. Esse modo de agir — múltiplos níveis institucionais e formação de discursos que legitimam práticas de controle — é exatamente o foco foucaultiano (Vigiar e Punir; História da Sexualidade). Logo, B descreve com precisão a concepção de poder em jogo.
Por que as outras estão erradas:
A (marxismo): o marxismo interpreta conflitos primariamente em termos de classes e relações econômicas de produção. O texto enfatiza discurso e estigmatização cultural, não uma lógica explícita de luta de classes entre capitalistas/trabalhadores.
C (Rousseau): o contratualismo de Rousseau trata de vontade geral, corrupção da natureza humana e legitimidade política. Não aborda mecanismos discursivos institucionais nem biopoder utilizados para desumanizar grupos.
D (Hobbes): Hobbes valoriza o pacto para evitar o estado de natureza e o poder soberano para impor ordem. A explicação do texto não mobiliza a ideia de restabelecimento da ordem por um Leviatã, mas sim a produção contínua de discursos e práticas que legitimam opressão.
Dica de prova: procure palavras-chave — “discurso”, “instituições”, “ressignificar percepções” apontam para Foucault; termos como “classe” ou “luta econômica” indicam marxismo.
Fontes recomendadas: Michel Foucault, Vigiar e Punir (1975); História da Sexualidade, vol.1 (1976).
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