Seja como for, o comunismo não se limitava à Rússia. [...] Uma das minhas primeiras experiências políticas, quando me tornei membro do partido [comunista] na época em que ainda estudava em Berlim, foi uma discussão com o companheiro responsável por meu recrutamento. Ele ficou desconcertado quando lhe disse: “Bem, todo mundo sabe que a Rússia é um país atrasado, por isso podemos esperar que o comunismo tenha suas derrotas por lá.”

(Eric J. Hobsbawm. O novo século, 2000.)

A afirmação do estudante de Berlim e futuro historiador inglês baseava-se na ideia de que

Resposta correta: E

Tema central: a relação entre a estrutura econômica de um país (se é industrializado ou atrasado) e a viabilidade de uma revolução comunista. Para resolver a questão é preciso conhecer a expectativa marxista sobre a revolução proletária e como os bolcheviques adaptaram sua prática à realidade russa.

Resumo teórico: Marx e Engels esperavam que a revolução socialista nascesse onde houvesse uma forte classe operária industrial (Communist Manifesto, 1848). A Revolução Russa (1917), porém, ocorreu num país predominantemente agrário e atrasado, forçando os bolcheviques a enfrentar diretamente a questão do desenvolvimento econômico — políticas de guerra, a NEP (1921) e, depois, a industrialização planejada.

Por que E é a correta: a frase do estudante (“a Rússia é um país atrasado...”) aponta que a realidade russa tornava problemática a implantação imediata do comunismo nos moldes previstos por Marx. Logo, a ideia subjacente é que a revolução bolchevista teria de lidar com o problema do desenvolvimento econômico do país — exatamente o enunciado da alternativa E. Fontes: Lenin (análises sobre capitalismo russo) e o próprio registro de Hobsbawm.

Análise das alternativas incorretas:

A — afirma que revoluções operárias vitoriosas ocorreram nos países mais industrializados. Esta é a expectativa teórica de Marx, mas a alternativa apresenta uma generalização histórica falsa: a Revolução Russa foi vitoriosa em um país pouco industrializado, o que contradiz a ideia de que só países avançados veriam sucesso revolucionário; além disso, não é a melhor leitura da intenção do estudante.

B — associa diretamente rupturas como a Revolução Francesa à origem de regimes totalitários. Mistura conceitos distintos (revoluções liberais/constitucionais x totalitarismo do século XX) e não responde ao comentário sobre o atraso econômico.

C — diz que o sucesso revolucionário dependeria da propagação para países “dominados pelos europeus”. Trata-se de uma visão mais próxima de debates sobre revolução internacional (Trotsky), mas não é o foco do comentário citado, que enfatiza o atraso econômico interno da Rússia.

D — afirma que a vitória foi liderada por partidos oriundos de movimentos camponeses. Incorreto: os bolcheviques eram um partido de vanguarda urbano que contou com apoio camponês, mas não originou-se de movimentos camponeses.

Dica de interpretação: foque em palavras-chave do enunciado (por ex. “atrasado”) e relacione-as às consequências políticas e econômicas reais — elimine alternativas que mudam o foco (ideias sobre internacionalismo, origem social dos partidos ou juízos gerais anacrônicos).

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!