Os pronomes oblíquos assumem, geralmente, a função de
complementos verbais. Em “projeta-o” (2ª
estrofe) e “Demore-a” (4ª estrofe), os pronomes oblíquos referem-se, respectivamente, aos termos
Leia o poema “A última nau”, da obra Mensagem, de Fernando Pessoa, para responder à questão.
Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago1
Erma2 , e entre choros de ânsia e de pressago3
Mistério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projeta-o, sonho escuro
E breve.
Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
(Obra poética, 1987.)
1aziago: funesto.
2erma: solitária.
3pressago: presságio.
Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago1
Erma2 , e entre choros de ânsia e de pressago3
Mistério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projeta-o, sonho escuro
E breve.
Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
2erma: solitária.
3pressago: presságio.
Gabarito comentado
Tema central: A questão explora a interpretação de texto atrelada à referência pronominal e ao uso dos pronomes oblíquos átonos (“o” e “a”), no contexto da função de objeto direto na oração, conforme a norma-padrão.
Fundamentos normativos: De acordo com Bechara (2003) e Cunha & Cintra (2008), os pronomes oblíquos “o” e “a” geralmente retomam termos já citados no texto e exercem a função de objeto direto de verbos transitivos diretos.
Análise do poema:
1. “projeta-o”: No verso “Mas Sua luz projeta-o, sonho escuro e breve”, o pronome “o” refere-se a “corpo”, termo anterior em “Deus guarda o corpo e a forma do futuro”. O verbo “projetar” exige objeto direto; assim, “o” substitui “corpo”.
2. “Demore-a”: No trecho “Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora Mistério”, o pronome “a” retoma “hora”, anteriormente mencionado em “Não sei a hora, mas sei que há a hora”. O verbo “demorar” também exige objeto direto, e “a” substitui “hora”.
Justificativa da alternativa correta (C): Os pronomes oblíquos “o” e “a” retomam, respectivamente, “corpo” e “hora”, cumprindo regras de coesão textual e regência verbal, como demonstra a gramática de referência. Logo, alternativa C: “corpo” e “hora” é a correta.
Análise das alternativas incorretas:
A) “Deus” (sujeito) jamais poderia ser objeto direto; “alma” não é retomada por “a”.
B) “sol” e “nau” não estão ligados a “projeta-o” e “Demore-a”.
D) “Mistério” e “cerração” não correspondem a pronomes em questão.
E) “Império” e “névoa” não são os termos retomados.
Dica: Em provas, sempre retorne ao texto e busque o substantivo mais imediatamente próximo ao uso do pronome, respeitando o gênero e o número. Atenção para pegadinhas como a troca do sujeito pelo objeto!
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