Questão 98216b30-d7
Prova:FAMERP 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Segundo Modesto Carone, o trecho que melhor ilustra a última fase da poesia de João Cabral é:

Leia um trecho do ensaio de Modesto Carone para responder à questão.

    É fato sabido que a trajetória de João Cabral começa num surrealismo despojado da escrita automática, passa pelo ardor da construção e da lucidez, discute a pureza e a decantação da poesia antilírica e, descartando a desconfiança (então em moda) quanto à possibilidade de dizer o mundo e os seus conflitos, assume, de Morte e vida severina em diante, o lado sujo da miséria do Nordeste.
(Modesto Carone. “Severinos e comendadores”. In: Roberto Schwarz (org). Os pobres na literatura brasileira, 1983.)

A
O mar, que só preza a pedra,
que faz de coral suas árvores,
luta por curar os ossos
da doença de possuir carne,
B
Sobre o lado ímpar da memória
o anjo da guarda esqueceu
perguntas que não se respondem.
C
Com peixes e cavalos sonâmbulos
pintas a obscura metafísica
do limbo.
D
Ó face sonhada
de um silêncio de lua,
na noite da lâmpada
pressinto a tua.
E
As nuvens são cabelos
crescendo como rios;
são os gestos brancos
da cantora muda;

Gabarito comentado

P
Priscila CoutinhoMonitor do Qconcursos

Tema central da questão: Interpretação de texto literário, com ênfase na identificação de características temáticas vinculadas à fase social de João Cabral de Melo Neto. O objetivo é perceber quais versos representam a abordagem direta da realidade nordestina e da miséria, elemento central da última fase do poeta, especialmente a partir de Morte e Vida Severina.

Justificativa da alternativa correta (A):

Os versos “O mar, que só preza a pedra, que faz de coral suas árvores, luta por curar os ossos da doença de possuir carne” destacam elementos concretos do Nordeste — “pedra”, “coral”, “ossos” — repletos de secura, aridez e luta pela sobrevivência.
A expressão “doença de possuir carne” metaforiza a magreza extrema, marca da pobreza extrema, tema constante da fase engajada de João Cabral. Destaca-se a objetividade direta e o discurso de denúncia, segundo a tradição do poeta em Morte e Vida Severina.
Segundo Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), a interpretação correta depende da relação entre conteúdo do texto-base e o trecho apontado, valorando-se o sentido denotativo e concreto.

Análise das alternativas incorretas:

B) “Sobre o lado ímpar da memória... perguntas que não se respondem.” – Versos subjetivos, de caráter existencial, não abordam questões sociais ou regionais.

C) “Com peixes e cavalos sonâmbulos...” – Utiliza imagens surrealistas e metafísicas, sem conexão direta com a miséria ou o Nordeste.

D) “Ó face sonhada... pressinto a tua.” – Centrados em abstração, sentimento e imagens poéticas distantes do compromisso com a realidade social.

E) “As nuvens são cabelos... da cantora muda;” – Imagens líricas e associativas, também menos objetivas e desvinculadas da denúncia social.

Estratégias para questões similares:

Fique atento ao tema central pedido pelo enunciado: localize expressões e imagens que se alinhem ao perfil da fase do autor citada. A exigência de “última fase” remete a temas sociais e concretos, não ao lirismo ou surrealismo inicial. Compare sempre a objetividade das imagens com o contexto apresentado.

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