COMO ERA BOM
o tempo em que marx explicava o mundo
tudo era luta de classes
como era simples
o tempo que freud explicava
que édipo tudo explicava
tudo era clarinho limpinho explicadinho
tudo era mais asséptico
do que era quando eu nasci
hoje rodado sambado pirado
descobri que é preciso
aprender a nascer todo dia
Chacal, Belvedere [1971-2007].
Nesse poema, o contraste entre passado e presente assume uma perspectiva pessimista que revela
o tempo em que marx explicava o mundo
tudo era luta de classes
como era simples
o tempo que freud explicava
que édipo tudo explicava
tudo era clarinho limpinho explicadinho
tudo era mais asséptico
do que era quando eu nasci
hoje rodado sambado pirado
descobri que é preciso
aprender a nascer todo dia
Chacal, Belvedere [1971-2007].
Nesse poema, o contraste entre passado e presente assume uma perspectiva pessimista que revela
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto, especialmente quanto à identificação de postura crítica e análise de sentidos subentendidos (implícitos) no poema, associando aspectos de coerência textual e ironias/valores subjetivos presentes no discurso poético.
Justificativa da alternativa correta (C):
O poema reflete um ceticismo diante das teorias que, antigamente, pareciam explicar toda a realidade social e individual (“tudo era luta de classes”, “tudo era clarinho limpinho explicadinho”). O eu-lírico ironiza essa suposta simplicidade do passado e mostra que, no presente, não há explicação totalizante; é preciso “aprender a nascer todo dia”, isto é, estar aberto à constante redescoberta e reinvenção de si mesmo frente à complexidade do mundo. Aqui, utiliza-se o mecanismo de coerência textual, pois todo o sentido do texto aponta para uma crítica à ideia de explicação única e definitiva, reforçada pelo tom irônico e pela oposição entre passado simples e presente complexo.
Segundo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), “a coerência textual é a propriedade que confere sentido lógico e global ao texto”. Nesse caso, o sentido global é de negação de certezas e de desconfiança crítica em relação às teorias fechadas. Assim, a alternativa C é a única que respeita o encadeamento lógico-semântico das ideias do poema.
Análise das alternativas incorretas:
A) Fala em crença absoluta nas teorias, mas o texto é nitidamente irônico quanto a isso, ressaltando o distanciamento diante dessas explicações fáceis.
B) Aborda felicidade, tema não tratado pelo poema, que discute explicações da realidade, e não felicidade.
D) Supõe desinteresse pelo futuro, o que contraria o verso final sobre “aprender a nascer todo dia” — expressão de renovação e busca constante.
E) Sugere “tragédia grega”, mas a figura de Édipo serve aqui como exemplo irônico de explicação fechada do passado; o nascimento do eu-lírico não é o foco trágico do texto.
Orientação estratégica para a prova: Questões desse tipo exigem leitura cuidadosa dos detalhes do texto, identificação do tom (ironia, crítica, nostalgia) e análise da coerência entre as alternativas e as ideias realmente presentes no texto. Atenção especial a termos que sugerem afirmações absolutas ou explicações não mencionadas.
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