Questão 95e04672-a9
Prova:UFSCAR 2007
Disciplina:História
Assunto:República Autoritária : 1964- 1984, História do Brasil

Em 1968, o artista plástico Hélio Oiticica, acompanhado por outros artistas, participou de uma manifestação no Largo General Osório, em Ipanema, no Rio de Janeiro, apresentando um estandarte/bandeira com a foto de seu amigo morto, que dizia Seja Marginal Seja Herói. A obra era uma homenagem a um ladrão e traficante do Rio, conhecido como “Cara-de- cavalo”, que foi assassinado violentamente pela polícia.

Imagem 059.jpg

Considerando que a obra expressa um manifesto político, qual seu significado naquele contexto histórico?

A
O artista utilizou o slogan para criticar o apoio da imprensa às ações violentas da polícia do Rio de Janeiro, que tinham ajuda do governo federal.
B
Preito aos marginais em geral, que podiam ser tanto ladrões e traficantes, como estudantes, artistas e operários, presos e mortos pelo regime militar.
C
Um protesto do artista contra a população das favelas do Rio de Janeiro, que considerava o traficante “Cara-de- cavalo” um herói.
D
Expressava a crise gerada pela mudança de paradigma na imagem do anti-herói brasileiro, que se distanciava do personagem Macunaíma, de Mário de Andrade.
E
Versão barroca dos bandidos das favelas do Rio de Janeiro, transformados em objeto de consumo da sociedade capitalista em expansão.

Gabarito comentado

Pedro VandréMonitor do Qconcursos

Sobre a obra de Hélio Oiticica proposta pela questão, vamos selecionar a alternativa correta:


A) Incorreta – Embora o trabalho de Oiticica contenha uma crítica implícita à violência policial, ele não faz uma menção específica ao papel da imprensa. A obra é mais ampla e busca questionar a marginalização e a violência como um todo, em vez de uma crítica direta à mídia.


B) Correta – Essa é a resposta correta e expressa o cerne da obra de Oiticica. Em 1968, o Brasil estava sob o regime militar, e a repressão violenta era exercida não apenas contra criminosos comuns, mas também contra dissidentes políticos, estudantes, artistas e trabalhadores que se opunham ao regime. Oiticica, com sua obra, critica essa realidade ao associar a figura do "marginal" — uma categoria na qual o regime incluía qualquer forma de oposição — à ideia de heroísmo. Nesse contexto, marginais não eram apenas criminosos comuns, mas também aqueles que, em luta contra o sistema opressor, eram vistos como uma ameaça e, por isso, perseguidos, presos ou mortos. O artista subverte a lógica autoritária ao enaltecer o "marginal" como heroi.


C) Incorreta – Oiticica não estava criticando a população das favelas, nem os considerando herois ou vilões. Pelo contrário, a obra destaca o contraste entre a visão do sistema sobre o "marginal" e a realidade da violência sofrida pelas classes mais desfavorecidas, como os moradores de favelas. O artista oferecia uma perspectiva crítica e empática com os marginalizados, sem atacá-los.


D) Incorreta – A obra de Oiticica está inserida no contexto de repressão política e violência policial durante a ditadura militar no Brasil, sem conexão direta com a literatura ou a evolução do conceito de anti-heroi no Brasil.


E) Incorreta – Embora o capitalismo em expansão tenha sido, de fato, uma causa de marginalização social, a obra não é uma crítica ao consumo em si, mas à forma como o Estado e a sociedade marginalizavam e eliminavam pessoas como "Cara-de-Cavalo", que viviam à margem da sociedade e eram tratados como inimigos públicos. O foco da obra é na marginalização e na violência de Estado, não em uma crítica ao consumo.


Gabarito – Letra B


Referência:


Fonseca, Liziane Nolasco, and Eduardo Arriada. "História da arte no período da ditadura militar no Brasil (1964-1985)." Seminário de História da Arte-UFPel 1.8 (2019).


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