Questão 9235ced9-02
Prova:
Disciplina:
Assunto:
REPISANDO A CANDELÁRIA
Armando Freitas Filho
Ao pé das portas
fechadas da igreja
na calçada dormente
corpos se estendem.
Na manhã de corpos
alguns acordam
dia sim, dia não
na vida da calçada.
Corpos, alguns
na calçada, acordam
mais dia, menos dia
na vida da manhã.
Na manhã, de dias iguais
alguns, não acordam
na vida de corpos
largados na calçada.
Dormem de dia
com a mesma aparência
dos mortos, os corpos
deitados na calçada.
Ou como, quando
ainda não nascidos -
fetais - na fatalidade
dos dias na calçada.
Delineados em diagrama
nos espaços que ocuparam
para sempre na calçada
brutos e delicados.
Chapados, colados
brotam na calçada:
jardim de carne
que cresceu de noite.
Rajada que não é
de vento, calçada
de corpos já derrubados
pelo sono, amortecidos.
Vida de um dia
de corpos, uns, nus
alguns, nenhuns, não
acordam cedo, na calçada.
Dormem, doentes
ou adolescentes
voltam à primeira idade
geminados na calçada.
Na ilha do asfalto
cercada pelo tráfego
marcada pela cruz
a isca dos corpos.
FREITAS FILHO, Armando. Poema inédito, 2 de fevereiro de 2010.
Sobre o TEXTO, não se pode afirmar que:
REPISANDO A CANDELÁRIA
Armando Freitas Filho
Ao pé das portas
fechadas da igreja
na calçada dormente
corpos se estendem.
Na manhã de corpos
alguns acordam
dia sim, dia não
na vida da calçada.
Corpos, alguns
na calçada, acordam
mais dia, menos dia
na vida da manhã.
Na manhã, de dias iguais
alguns, não acordam
na vida de corpos
largados na calçada.
Dormem de dia
com a mesma aparência
dos mortos, os corpos
deitados na calçada.
Ou como, quando
ainda não nascidos -
fetais - na fatalidade
dos dias na calçada.
Delineados em diagrama
nos espaços que ocuparam
para sempre na calçada
brutos e delicados.
Chapados, colados
brotam na calçada:
jardim de carne
que cresceu de noite.
Rajada que não é
de vento, calçada
de corpos já derrubados
pelo sono, amortecidos.
Vida de um dia
de corpos, uns, nus
alguns, nenhuns, não
acordam cedo, na calçada.
Dormem, doentes
ou adolescentes
voltam à primeira idade
geminados na calçada.
Na ilha do asfalto
cercada pelo tráfego
marcada pela cruz
a isca dos corpos.
FREITAS FILHO, Armando. Poema inédito, 2 de fevereiro de 2010.
Sobre o TEXTO, não se pode afirmar que:
A
trata-se de um poema memento em memória de meninos executados na chamada Chacina da
Candelária.
B
o poema apresenta movimento cíclico, desperiodizado, possuindo algumas séries fônicas que são
reiteradas e funcionam como unidades rítmicas.
C
o poema é composto de doze estrofes com quatro versos cada uma.
D
a frase "corpos na calçada" resume o conteúdo do poema, sendo encontrada por múltiplas vezes
espalhadas, ao mesmo tempo dispersas e concentradas, ao longo das doze estrofes.
E
a intenção do eu-lírico é a de apresentar, a partir da linguagem da poesia, uma descrição dos atos
de violência que levaram à morte diversos meninos de rua na Chacina da Candelária.