Questão 8ee64122-b0
Prova:UEL 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a noção de imitação (mímesis) em Aristóteles, assinale a alternativa correta.

Leia o texto a seguir.


Ao que parece, duas causas, e ambas naturais, geraram a poesia. O imitar é congênito no homem, e os homens se comprazem no imitado. Sinal disso é o que acontece na experiência: nós contemplamos com prazer as imagens mais exatas daquelas mesmas coisas que olhamos com repugnância, por exemplo, as representações de animais ferozes e de cadáveres. Causa é que o aprender não só muito apraz aos filósofos, mas também, igualmente, aos demais homens, se bem que menos participem dele. Efetivamente, tal é o motivo por que se deleitam perante as imagens: olhando-as aprendem e discorrem sobre o que seja cada uma delas, e dirão, por exemplo, “este é tal”. Porque, se suceder que alguém não tenha visto o original, nenhum prazer lhe advirá da imagem, como imitada, mas tão-somente da execução, da cor ou qualquer outra causa da mesma espécie.

(Adaptado de: ARISTÓTELES, Poética. Trad. Eudoro de Sousa. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p.445. Os Pensadores.)

A
A pintura e a poesia retratam prazerosamente as coisas imitadas como mais belas do que são na realidade.
B
A pintura e a poesia são prazerosas quando retratam coisas agradáveis, já as imitações desagradáveis nenhum prazer causam nas pessoas.
C
Ao dizer “este é tal”, percebem-se a cor e as técnicas usadas pelo pintor, o que provoca uma sensação desagradável.
D
As imitações da poesia e da pintura causam prazer ao se reconhecer o retratado, mesmo que seja uma retratação de algo desagradável.
E
Diferentemente da pintura, a poesia surgiu via causas naturais, pois, nesta, a imitação é uma característica adquirida na experiência.

Gabarito comentado

E
Eduardo Mota Monitor do Qconcursos

Tema central da questão: Interpretação de texto, com ênfase na compreensão do conceito de mímesis (imitação) segundo Aristóteles.

No texto apresentado, Aristóteles argumenta que a arte – seja ela pintura ou poesia – tem origem no impulso humano de imitar. Esse imitar causa prazer, principalmente quando reconhecemos o objeto imitado, ainda que este seja algo naturalmente desagradável, como animais ferozes ou cadáveres. A chave do prazer estético, segundo o filósofo, está no aprendizado e no reconhecimento do que é retratado, não apenas na beleza ou na agradabilidade do tema.

Alternativa correta: D

A alternativa D afirma que “as imitações da poesia e da pintura causam prazer ao se reconhecer o retratado, mesmo que seja uma retratação de algo desagradável”. Isso está totalmente alinhado ao texto e à concepção aristotélica: o prazer nasce da identificação e da compreensão, como explicitado pelo trecho “olhando-as aprendem e discorrem sobre o que seja cada uma delas”.

Análise das alternativas incorretas:

A) Incorreta: Não se trata de tornar as coisas mais belas, mas de imitá-las de modo exato, seja belo ou repulsivo.
B) Incorreta: O prazer não depende apenas de as coisas imitadas serem agradáveis; o próprio texto mostra que sentimos prazer ao reconhecer o que é representado, mesmo que seja algo repugnante.
C) Incorreta: O prazer descrito por Aristóteles está na compreensão, não nas técnicas (cor, execução) empregadas.
E) Incorreta: Ambas, pintura e poesia, surgem de causas naturais em Aristóteles (o impulso de imitar é congênito), rejeitando a separação feita nessa alternativa.

Estratégia de Interpretação: Questões desse tipo exigem atenção aos focos argumentativos do texto. Aqui, a palavra-chave é “prazer” relacionado ao reconhecimento (este é tal), independentemente do objeto ser agradável ou não. Atenção a pegadinhas: palavras como “somente coisas agradáveis” ou “mais belas” distorcem a ideia central do autor.

Segundo Evanildo Bechara, a leitura estratégica e contextualizada é fundamental: é preciso delimitar o que é opinião do autor e o que é juízo do candidato. Em provas, busque sempre identificar conectores que explicam causas (“porque”, “efetivamente”, “sinal disso é...”) para localizar argumentos centrais.

Resumo: Aristóteles valoriza o prazer no reconhecimento do retratado pela mímesis, não importando se o objeto é agradável ou não – regra central para gabaritar questões sobre arte e filosofia clássica aplicadas à interpretação.

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