Analisando as ideias expostas na sequência do
texto 2, fica evidente:
TEXTO 2
A “A língua dos índios é muito rudimentar”
Assim como outros mitos, esse aqui já começa completamente equivocado. Sua formulação já é, de saída, imprópria: não há uma “língua dos índios”. Há, na verdade, diversas línguas indígenas, faladas por diferentes comunidades indígenas. E nenhuma dessas línguas é “rudimentar”, em qualquer sentido que se possa pensar. As línguas indígenas são extremamente complexas – tão complexas quanto qualquer outra língua natural, como o português, o francês, o chinês ou o japonês.
Para tentar desconstruir a primeira parte deste mito (sobre haver apenas uma única “língua dos índios”), precisamos falar um pouco sobre a variedade linguística reinante entre as populações indígenas brasileiras.
Hoje, no Brasil, são faladas cerca de 180 línguas indígenas, por cerca de 220 povos indígenas. Por trás desse número, devo fazer algumas ressalvas. Em primeiro lugar, todo e qualquer método de contagem de línguas é impreciso por natureza, já que os limites entre língua e dialeto são corredios. O critério normalmente utilizado para afirmar que determinada língua é, de fato, uma língua e não um dialeto de uma outra – não é um critério de natureza estritamente linguística, mas de viés marcadamente político. Daí por que, entre os sociolinguistas, se diz que “uma língua é um dialeto com um exército e uma marinha”.
Além de o critério de contagem das línguas, em especial o de línguas indígenas, não ser preciso e uniforme, há ainda a questão que envolve a destruição das culturas indígenas, e, consequentemente, o desaparecimento de suas línguas. Se hoje temos cerca de 180 línguas indígenas faladas no Brasil, estima-se que, em 1500, à época da chegada portuguesa em terras brasileiras, o número era de 1.270 línguas, ou seja, um número sete vezes maior. Além de o número total de línguas ter sido drasticamente reduzido – e, com isso, o número de populações indígenas – todas as línguas indígenas brasileiras podem hoje ser consideradas línguas ameaçadas.
Isso significa que, a cada ano que passa, podemos perder uma língua no país. É uma perda terrível, não só para a linguística, mas para o patrimônio mundial cultural e humano. Quando uma língua deixa de existir, perdemos mais do que um sistema de comunicação complexo e estruturado; perdemos uma maneira de ver e de compreender o mundo.
Gabriel de Ávila Othero. Mitos de Linguagem. São Paulo: Editora Parábola, 2017, p. 109-111. (Adaptado).
TEXTO 2
A “A língua dos índios é muito rudimentar”
Assim como outros mitos, esse aqui já começa completamente equivocado. Sua formulação já é, de saída, imprópria: não há uma “língua dos índios”. Há, na verdade, diversas línguas indígenas, faladas por diferentes comunidades indígenas. E nenhuma dessas línguas é “rudimentar”, em qualquer sentido que se possa pensar. As línguas indígenas são extremamente complexas – tão complexas quanto qualquer outra língua natural, como o português, o francês, o chinês ou o japonês.
Para tentar desconstruir a primeira parte deste mito (sobre haver apenas uma única “língua dos índios”), precisamos falar um pouco sobre a variedade linguística reinante entre as populações indígenas brasileiras.
Hoje, no Brasil, são faladas cerca de 180 línguas indígenas, por cerca de 220 povos indígenas. Por trás desse número, devo fazer algumas ressalvas. Em primeiro lugar, todo e qualquer método de contagem de línguas é impreciso por natureza, já que os limites entre língua e dialeto são corredios. O critério normalmente utilizado para afirmar que determinada língua é, de fato, uma língua e não um dialeto de uma outra – não é um critério de natureza estritamente linguística, mas de viés marcadamente político. Daí por que, entre os sociolinguistas, se diz que “uma língua é um dialeto com um exército e uma marinha”.
Além de o critério de contagem das línguas, em especial o de línguas indígenas, não ser preciso e uniforme, há ainda a questão que envolve a destruição das culturas indígenas, e, consequentemente, o desaparecimento de suas línguas. Se hoje temos cerca de 180 línguas indígenas faladas no Brasil, estima-se que, em 1500, à época da chegada portuguesa em terras brasileiras, o número era de 1.270 línguas, ou seja, um número sete vezes maior. Além de o número total de línguas ter sido drasticamente reduzido – e, com isso, o número de populações indígenas – todas as línguas indígenas brasileiras podem hoje ser consideradas línguas ameaçadas.
Isso significa que, a cada ano que passa, podemos perder uma língua no país. É uma perda terrível, não só para a linguística, mas para o patrimônio mundial cultural e humano. Quando uma língua deixa de existir, perdemos mais do que um sistema de comunicação complexo e estruturado; perdemos uma maneira de ver e de compreender o mundo.
Gabriel de Ávila Othero. Mitos de Linguagem. São Paulo: Editora Parábola, 2017, p. 109-111. (Adaptado).
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de Texto com foco em variação linguística e relação entre língua e cultura.
O texto explora o mito de uma suposta “língua dos índios”, refutando a ideia de que existe apenas uma, e esclarecendo que há uma grande diversidade de línguas indígenas no Brasil. Além disso, ressalta a complexidade dessas línguas e a importância de sua preservação, ligando o idioma diretamente à cultura e à identidade dos povos indígenas.
Justificativa da alternativa correta:
Alternativa B — “a relação de interação e interdependência entre língua e cultura”
O texto deixa claro que a língua é muito mais do que um sistema de comunicação: é forma de expressão cultural. Quando uma língua desaparece, perde-se também uma “maneira de ver e compreender o mundo”, ou seja, valores, saberes e perspectivas de um povo. De acordo com Mattoso Câmara Jr., “a língua depende da cultura, pois tem de expressá-la a cada momento”. Com isso, fica evidente a forte interdependência exposta no texto.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta — O texto afirma que os critérios para diferenciar língua e dialeto são imprecisos e políticos, rejeitando precisão e uniformidade na avaliação das questões linguísticas.
C) Incorreta — A distinção entre língua e dialeto, segundo o texto e autores como Max Weinreich, é marcada por políticas e não por critérios puramente linguísticos.
D) Incorreta — O texto aponta a dificuldade em definir o que é língua ou dialeto por critérios fixos, ressaltando a identidade instável entre eles.
E) Incorreta — O autor desmonta justamente o mito de que “língua dos índios” é equivalente à diversidade real das “línguas indígenas”. A afirmação de equivalência é incorreta.
Estratégia de prova: Sempre destaque expressões definitivas (“precisão”, “uniformidade”, “identidade estável”, “equivalência”) e desconfie de alternativas que contrariem o tom crítico ou relativizador do texto.
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