Entre os dois períodos do primeiro parágrafo do texto 2, a oposição mais importante para o próprio texto é:
Texto 2
UM PÉ DE MILHO
Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o
fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho.
Aconteceu que, no meu quintal, em um monte de terra trazida pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser
um pé de capim – mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa. Secaram as
pequenas folhas; pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um amigo
e declarou desdenhosamente que aquilo era capim. Quando estava com dois palmos, veio um outro amigo e afirmou
que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança
suas folhas além do muro e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto.
Tinha visto centenas de milharais – mas é diferente. Um pé de milho sozinho, em um canteiro espremido, junto do
portão, numa esquina de rua – não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes
roxas se agarram no chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações surrealistas –
mas na lógica de seu crescimento, tal como vi numa noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, de
crinas ao vento e em outra madrugada, parecia um galo cantando.
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho
pendoou. Há muitas flores lindas no mundo, e a flor de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme,
vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que me
fazem bem. É alguma coisa que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. Eu não
sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da rua
Júlio de Castilhos.
Rubem Braga
Gabarito comentado
Gabarito: C) universal X particular
Tema central: Esta questão avalia interpretação de texto, mais precisamente a identificação da relação de oposição entre ideias em diferentes períodos do texto, um elemento essencial para coesão e coerência textual (vide Koch & Elias, Bechara).
Justificativa da alternativa correta: No primeiro parágrafo, há dois fatos destacados:
1. “Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante.”
2. “Mas o fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho.”
A conjunção “mas” (adversativa) introduz uma oposição clara: o contato com a Lua representa um feito de dimensão universal, amplo e de interesse global; já o crescimento do pé de milho remete ao particular, ao valor pessoal e cotidiano do narrador.
Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, a oposição, em termos semânticos, “é quando há confronto direto entre duas ideias” — aqui, entre o mundo e o indivíduo, o extraordinário e o cotidiano.
Análise das alternativas incorretas:
A) estrangeiros X brasileiros: Não há antagonismo nacionalista; o texto não contrapõe personagens por nacionalidade.
B) emocionante X frio: Embora “emocionante” seja citado, o fato envolvido com o pé de milho também desperta emoções no narrador. Não há menção a nenhuma “frieza”.
D) cósmico X terrestre: Apesar do contato com a Lua ser de ordem cósmica, o milho não representa apenas o “terrestre”, mas, especificamente, o particular.
E) tecnológico X rudimentar: Aqui seria uma oposição de meios; entretanto, o foco do texto não está na tecnologia versus rusticidade, mas na dimensão dos fatos (universal x pessoal).
Ponto-chave para interpretação: Atente para o papel da conjunção “mas”, que marca oposição clara. Um erro comum é prender-se a palavras específicas e perder o sentido global do trecho. Nos vestibulares, sempre que houver confronto de ideias, procure identificar a natureza dessa oposição em termos de alcance, valor ou envolvimento emocional.
Resumo da estratégia: Ler atentamente, buscar as ideias principais de cada período, e analisar o conectivo que une (ou separa) as sentenças. Lembre que, conforme Bechara, a coesão é criada não apenas por palavras, mas pela relação lógica entre as ideias.
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